40 POLÍCIAS PARA DESPEJAR MÃE COM DOIS FILHOS
Mulher de 27 anos ocupava de forma ilegal habitação social da Autarquia
Quarenta polícias foram chamados para desalojar uma mulher e duas filhas menores de uma casa em Espinho. A Câmara diz que era uma ocupação ilegal e que é um exemplo para “moralizar” a habitação social.
Mãe, onde vamos passar a noite?”, perguntou uma das filhas de Juliana Ferreira, 27 anos, que desde fevereiro ocupou de forma ilegal uma habitação social no Bairro Novo, em Silvalde, Espinho. A mãe não teve resposta para a inquietude da menina acabada de acordar. As filhas, de três e sete anos, tinham despertado num ambiente de tensão que reinava na casa número 60, porque faltava pouco mais de uma hora para terminar o prazo que a Autarquia deu à família para sair.
Em poucos minutos, familiares e amigos retiraram todos os bens, enquanto Juliana se apressava a deixar as filhas na escola, livres do cenário de caos que se adivinhava.
Tal como esperado, pouco depois das 9.30 horas, um forte dispositivo policial (40 elementos, oriundos de Espinho, Aveiro e Porto) chegou ao local acompanhado de uma técnica da ação social.
Os agentes foram recebidos com os impropérios gritados por habitantes indignados com a ação levada a efeito a mando da Autarquia. Houve objetos arremessados em direção à PSP e quem tentasse travar o avanço dos agentes que procuravam convencer os contestatários mais exaltados a não travar o acesso à casa.
Depois das escaramuças resolvidas, Juliana Ferreira acabou por ceder em deixar a habitação por entre lágrimas inconsoláveis. Foi proposto que ficasse temporariamente numa instituição com as filhas. Rejeitou. “Quero é uma habitação para as minhas filhas”, justificou.
Propostas recusadas
O protesto seguiu para o largo fronteiro ao edifício da Câmara onde a mulher e amigos se mantiveram ao longo do dia. “Não vamos sair daqui, se for preciso durmo na rua”, garantia Juliana, que dias antes tinha sido contactada pela Câmara, que diz ter “recusado as propostas apresentadas”.
Propostas que passavam pelo apoio ao arrendamento privado ou disponibilidade, provisória, de um apartamento. “Um T0 longe da escola não é suficiente”, alegou Juliana. Agora, “só tem duas alternativas”: “Fica com familiares ou é contactada pela Segurança Social que poderá encaminhar para uma instituição”, frisou, ao JN, Leonor Fonseca, vereadora da ação social, acrescentando que o despejo coercivo teve como missão “moralizar a atribuição de habitação social”. “Não podemos abrir precedentes”, referiu.
Entre os moradores nem todos comungavam dos protestos e havia quem denunciasse situações irregulares. Falam de vizinhos que ficam com familiares para alugar casas sociais a turistas. E há até relatos de quem venda as casas, em transações tipo trespasse, já que a venda é ilegal.
Um cenário conhecido da Autarquia. “Durante décadas, foi assim, porque não havia regras. Mas, agora, estamos a reavaliar as situações, para que haja justiça”, garantiu Leonor Fonseca.
O protesto continuou à noite durante a sessão da Assembleia Municipal. Os moradores assistiram sem direito a intervir e na rua a Polícia manteve-se atenta.