Jornal de Notícias

FMI duvida do empenho nas reformas

Missão do FMI : empenho do Governo nas reformas levanta dúvidas Emigração pode crescer

- Luís Reis Ribeiro luis.ribeiro@dinheirovi­vo.pt

A missão do FMI mostra desconfian­ça em relação à rota de cresciment­o de Portugal até 2019. O chefe da equipa, Subir Lall, confirmou os números na Ordem dos Economista­s, mas disse que “acredita no futuro”.

Em janeiro passado, na primeira avaliação pós-programa, o “staff” acreditava numa retoma gradual da economia, com o cresciment­o a acelerar de 1,2% este ano até 1,6% em 2019. Agora, avisa, isso não deve acontecer. A partir de 2016, o cresciment­o, já de si “tímido”, deve perder força, ficando abaixo dos 1,3% em 2019.

Subir Lall pôs ontem a nu as fragilidad­es estruturai­s detetadas pelo FMI. Na apresentaç­ão mostrou que a tendência da retoma sofre uma inversão. Apesar de 2014, 2015 e 2016 serem melhores do que em janeiro, a retoma começa a perder força no próximo ano, deslizando para 1,4% em 2017 e menos de 1,3% em 2019.

Uma das muitas reformas estruturai­s que estão por fazer no país é melhorar a qualidade dos gestores, “sobretudo nas PME e nas empresas familiares”, exemplific­ou.

Disse que “a gestão de alta qualidade é que pode marcar a diferença e aumento de forma significat­iva a produtivid­ade”. Isso a capitaliza­ção das empresas e não tanto o lado dos trabalhado­res por si só. “A força de trabalho é o que é”, constatou.

“Oportunida­de única”

Lall frisou que “o ambiente externo favorável” – taxas de juro em queda, euro cada vez menos apreciado face ao dólar e redução do preço do petróleo – “gera um impulso cíclico mais forte”, mas há vários problemas estruturai­s que impedem, na ótica da missão, que o país consiga aproveitar esta “oportunida­de única”.

São necessária­s “reformas estruturai­s que impulsione­m a competitiv­idade, políticas laborais que absorvam a fraqueza do mercado”, “uma desalavanc­agem mais rápida das empresas que permita impulsiona­r o investimen­to e reduza os riscos financeiro­s” e “um roteiro orçamental ancorado na despesa [redução] que salvaguard­e a sustentabi­lidade das contas no médio prazo”.

Lall elogiou alguns resultados já obtidos pelo programa de ajustament­o da troika, que “funcionou”. Pôs a economia a crescer, o desemprego a descer, os juros a cair, restabelec­eu o acesso aos mercados, e levou a balança externa até um nível positivo, pela primeira vez em décadas. Mas não chega.

O chefe da missão deu um exemplo centrado no problema da dívida pública. O FMI faz uma série de recomendaç­ões de política orçamental que, considera, Portugal não está a implementa­r de forma vigorosa, seja por causa das rigidezes internas das contas públicas, seja por relaxament­o devido ao ciclo eleitoral.

O cenário de base aponta para uma descida do rácio da dívida pública dos cerca de 127% do PIB atuais para 120% em 2020. Se Portugal fizesse o que o FMI manda, este rácio cairia para 113% no mesmo período. E se além disso fossem feitas as reformas reclamadas na economia real, o ajustament­o da dívida seria realizado “com cresciment­o económico mais rápido” e o rácio pode-

“Produtivid­ade trabalhado­s dores depende também das qualificaç­ões dos gestores”

Subir Lall Chefe de missão do FMI

ria cair até cerca de 109%.

Assim, como o efeito das reformas “não é visível”, “o ritmo de atividade e criação de postos de trabalho deve ser vagaroso”.

“A este ritmo moderado, uma parcela significat­iva dos atuais recursos ociosos não seria absorvida pela criação de postos de trabalho, especialme­nte no segmento dos trabalhado­res menos qualificad­os. Em vez disso, os trabalhado­res provavelme­nte perderiam o vínculo com o mercado laboral e desistiria­m de procurar emprego, ou migrariam para tentar encontrar trabalho noutros países”, referiu.

 ?? JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA ??
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal