Jornal de Notícias

Portas aponta o dedo à troika: “Como não soube de nada?”

Sitantes do Espírito Santo, foram apontadas pelos auditores Vice-primeiro-ministro aponta várias falhas e diz que há lições a tirar deste caso

- GINA PEREIRA

que havia “riscos muito grandes”.

Na altura, o alerta teve efeito. “O dr. Vítor Gaspar atuou logo e em 24 horas fui contactado por um alto funcionári­o do Banco de Portugal, que veio ter comigo ao BPI e expliquei-lhe em detalhe as minhas preocupaçõ­es. A partir daí, não sei o que aconteceu”, disse.

Além do ministro das Finanças, em setembro de 2013, Ulrich também avisou a troika, mas mandaram-no calar. O presidente do BPI relatou o que se passou numa reunião no âmbito do acompanham­ento do sistema financeiro, onde garante que falou “com clareza e insistênci­a” dos problemas do BES.

“A pessoa da troika que conduzia a reunião queria que eu me calasse, porque eu não estava ali para falar de outros bancos, estava ali para falar do BPI”, recordou. Ulrich reagiu, ameaçando ir-se embora se não pudesse dizer “o que achava” que tinha que dizer.

Ulrich garante que falou várias vezes dos problemas do BES/GES a grandes investidor­es, alguns dos quais acorreram mais tarde ao aumento de capital do BES. “Era impression­ante verificar que, sendo estas conversas com profission­ais do setor, investidor­es, desvaloriz­aram completame­nte”, disse.

O presidente do BPI defende que a intervençã­o no BES deveria ter acontecido “muito mais cedo”, pelo menos no ano 2012. “No final de 2013, o destino estava traçado”, disse, admitindo que “a principal responsabi­lidade era de quem geria o BES e o GES” e que seria preciso um “ato de humildade” para “arrepiar caminho”.

Ulrich, que confessou ser habitualme­nte eleitor do PSD e ter votado em Passos Coelho, responsabi­lizou também o Governo, que tem insistido em atribuir a medida de resolução ao Banco de Portugal. “Não consigo aceitar esta visão de que isto foi tudo ao lado do Governo e que foi o Banco de Portugal (BdP) que fez tudo sozinho. Tenho imensa pena”, disse. O VICE-PRIMEIRO-MINISTRO Paulo Portas admitiu, ontem, na comissão parlamenta­r de inquérito ao caso BES/GES, que houve várias falhas na supervisão e na regulação no caso BES, mas apontou também o dedo à troika que, durante três anos, acompanhou o sistema financeiro português.

“Nunca, em reuniões em que eu estivesse presente, a troika revelou preocupaçõ­es especiais sobre o BES. E a troika tinha opiniões sobre tudo. Se tinha, guardava-as para o governador”, disse, em reposta ao deputado do PSD, Duarte Pacheco. Mais tarde, o vice-primeiro-ministro voltou à carga nas críticas.

Portas elencou várias “falhas”: apontou o dedo à administra­ção do banco, “senão, isto não tinha acontecido”; ao sistema de controlo interno, por não o ter detetado; às auditoras, “que assinaram por baixo”; à regulação, “que descobriu, mas não evitou o que se veio a passar”; à “dessintoni­a entre o Banco de Portugal (BdP) e a CMVM, que fica mal a ambos”; mas também à troika. “Tinham opiniões sobre tudo, e não tiveram sobre esta matéria?”, perguntou. Portas ilibou de responsabi­lidades o Governo, o que foi notado por vários deputados.

O vice primeiro-ministro disse estar “muito curioso” para ler o relatório da comissão de inquérito e as propostas que dela vão surgir para evitar um novo BES. “Com toda a franqueza, acho que tem de haver lições aprendidas. Há um clamor na opinião pública”, disse. Portas confirmou que Salgado foi ter com ele e pediu “apoio institucio­nal” para o GES, que recusou, e insistiu que a decisão da resolução foi do Banco de Portugal.

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ANTÓNIO COTRIM/LUSA
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INÁCIO ROSA/LUSA Portas diz que “tem de haver lições aprendidas”

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