Jornal de Notícias

QUESTÕES LEVADAS À AR

Moradores dizem que aumento é elevado e alertam para questões sociais

- Ana Gaspar agaspar@jn.pt

A HISTÓRIA é comum a quase todos os moradores: rendas demasiados altas para reformas tão baixas. Os habitantes dos bairros sociais estão em luta contra a lei da renda apoiada, que entrou em vigor no início do mês, e três centenas concentrar­am-se ontem frente à Assembleia da República (AR) para mostrar o seu desagrado.

Adelino Sousa, de 65 anos, veio de Guimarães, mais concretame­nte do bairro de S. Gonçalo onde vive desde 1979. “Nós não estamos contra os aumentos. Quando fui para lá morar, ganhava 2500 escudos (12,5 euros) e pagava uma renda de 2250 escudos (12,25 euros)”, contou ao JN, para mostrar que na altura o encargo também era grande.

Porém, em quase 40 anos, a renda não foi atualizada e as únicas melhorias que as habitações receberam foram as que os moradores pagaram. Agora, com um rendimento de 1100 euros – que engloba a sua reforma e a da mulher –, e com uma filha ainda a viver em casa, considera injusto o aumento da renda para 215 euros mensais. “Se dividir por três, nem um salário mínimo por pessoa dá”, disse.

“O cálculo é feito sobre o rendimento bruto, um valor irreal”, explicou aos jornalis52, Manuel da Silva N. S. da Conceição tas Daniela Serralho, do Instituto de Apoio aos Bairros Sociais, que organizou o protesto.

Durante a manifestaç­ão, que também pretendeu “alertar a população” porque “a habitação social é o espelho do país”, foi entregue uma mensagem destinada à presidente da AR, Assunção Esteves, ao primeiro-ministro, Passos Coelho, a António Costa, líder do PS e aos grupos parlamenta­res.

Maria Arlete Magalhães, de 77 anos, vive com o filho de Joaquim Pereira N. S. da Conceição no bairro de Nossa Senhora da Conceição, também em Guimarães, e vai ficar a pagar “mais de 90 euros”. Recebe 300 euros de reforma e o filho tem estado desemprega­do. “Empregou-se há pouco tempo, mas só recebe o ordenado mínimo”, contou.

“Quem está a sofrer mais são os idosos. Já trabalhara­m muito e têm reformas miseráveis”, prosseguiu Daniela Serralho, acrescenta­ndo que, ao abrigo da nova lei, “quando uma pessoa fica viúva, é obrigada a mudar para uma casa menor”, deixando aquela em que sempre viveu.

Quase cega, foi com a ajuda das vizinhas do bairro das Amendoeira­s, em Lisboa, que Maria Duarte, de 72 anos, conseguiu chegar ao ao fundo da escadaria da AR. A reforma “é pequena” e entre despesas fixas e medicament­os, a que se juntam os 140 euros que a renda vai passar a custar, a sobrevivên­cia será difícil. O que lhe vai sobrar ao fim do mês “não dá nem para um pacote de lenços”, lamentou. Há 30 anos, os moradores receberam a promessa de que passariam a proprietár­ios das habitações.

Estado das casas

É pedida a criação de uma entidade independen­te, que monitorize o estado das casas e garanta a imparciali­dade na atribuição das habitações que entretanto ficaram vagas.

Comunicaçã­o às Finanças

Os moradores exigem que os contratos sejam comunicado­s às Finanças, para poderem deduzir a renda nos impostos.

Despejos administra­tivos

“Não estamos contra os aumentos. Mas, têm de ser justos, face à qualidade das habitações” “É uma injustiça. Eu e a minha mulher recebemos 570 euros. A renda é de 80 euros”

Critica-se que o despejo possa ser comunicado por telefone e que a ausência de um documento seja considerad­a falsa declaração e obrigue ao abandono da casa.

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TIAGO PETINGA/LUSA Protesto contra lei da renda apoiada juntou, ontem, cerca de três centenas de pessoas, perto das escadarias do Parlamento, em Lisboa

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