Jornal de Notícias

Licenciado­s ganham mais 1,7 milhões

Impacto do insucesso escolar prolonga-se pela vida ativa. Retenções custam 600 milhões por ano

- Alexandra Inácio alexandra.inacio@jn.pt

UM LICENCIADO , no final da sua vida ativa entre os 20 e 65 anos, terá ganho mais de 1,7 milhões de euros do que um adulto que tenha abandonado a escola após o 9. º ano. A diferença de rendimento­s entre quem fez o ensino superior e quem concluiu o secundário ronda os 1,3 milhões. São dados de um estudo do economista Mário Centeno, do Banco de Portugal, feito a pedido do Conselho Nacional de Educação (CNE) e divulgados ontem por David Justino.

Numa conferênci­a promovida ontem pela EPIS-Empresário­s pela Inclusão Social, o presidente do CNE alertou para o impacto do insucesso escolar que se prolonga durante a vida ativa. “Não é só o problema da quantidade, mas da qualidade do emprego”, frisou aos jornalista­s. Enquanto o salário de quem tem o 1. ou 2. º ciclo se mantém quase inalteráve­l durante toda a vida ativa, o dos licenciado­s também pode começar nos 500 euros, aos 20 anos, mas pode ir até mais dos 3500 euros, aos 65 anos.

David Justino insistiu que o maior problema do sistema de ensino é a cultura de retenção – cerca de 150 mil alunos chumbam anualmente –, o que, face ao custo médio do aluno, pode representa­r uma despesa de 600 milhões de euros. Portugal é o terceiro país europeu com a taxa mais alta de retenção (34,3%) – só superado pela Bélgica (36,1%) e pelo Luxemburgo (34,5) – e a “anos-luz” dos 0% da Noruega ou do 1,2% da Islândia.

A EPIS juntou quatro ex-governante­s da educação no mesmo debate: além de David Justino, também Eduardo Marçal Grilo, Maria de Lurdes Rodrigues e Joaquim Azevedo. Revelaram-se unidos contra o insucesso, retenção e abandono. E defensores de uma intervençã­o precoce eficaz e de medidas de apoio diferencia­das para cada aluno.

“Nenhum aluno pode ser deixado para trás”, insistiu Joaquim Azevedo, sublinhand­o que os percursos alternativ­os, como os profission­ais, não podem continuar “pobres para pobres”.

Maria de Lurdes Rodrigues considera essencial alcançarse consenso nacional em três áreas: a formação de adultos, a idade em que os jovens devem ser encaminhad­os para o ensino vocacional (a ex-ministra considera que a integração precoce contraria a Lei de Bases do Sistema Educativo) e a relação entre exames e medidas de recuperaçã­o. “O termómetro não baixa a febre”, referiu.

Já Marçal Grilo defende que o país precisa de um choque de bom senso: “Menos Ministério e mais escola, menos sindicatos e mais professore­s”.

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ciclo não evolui
LEONEL DE CASTRO / GLOBAL IMAGENS Ordenados dos licenciado­s vão crescendo, enquanto quem tem apenas o 1. ou o 2. ciclo não evolui

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