Licenciados ganham mais 1,7 milhões
Impacto do insucesso escolar prolonga-se pela vida ativa. Retenções custam 600 milhões por ano
UM LICENCIADO , no final da sua vida ativa entre os 20 e 65 anos, terá ganho mais de 1,7 milhões de euros do que um adulto que tenha abandonado a escola após o 9. º ano. A diferença de rendimentos entre quem fez o ensino superior e quem concluiu o secundário ronda os 1,3 milhões. São dados de um estudo do economista Mário Centeno, do Banco de Portugal, feito a pedido do Conselho Nacional de Educação (CNE) e divulgados ontem por David Justino.
Numa conferência promovida ontem pela EPIS-Empresários pela Inclusão Social, o presidente do CNE alertou para o impacto do insucesso escolar que se prolonga durante a vida ativa. “Não é só o problema da quantidade, mas da qualidade do emprego”, frisou aos jornalistas. Enquanto o salário de quem tem o 1. ou 2. º ciclo se mantém quase inalterável durante toda a vida ativa, o dos licenciados também pode começar nos 500 euros, aos 20 anos, mas pode ir até mais dos 3500 euros, aos 65 anos.
David Justino insistiu que o maior problema do sistema de ensino é a cultura de retenção – cerca de 150 mil alunos chumbam anualmente –, o que, face ao custo médio do aluno, pode representar uma despesa de 600 milhões de euros. Portugal é o terceiro país europeu com a taxa mais alta de retenção (34,3%) – só superado pela Bélgica (36,1%) e pelo Luxemburgo (34,5) – e a “anos-luz” dos 0% da Noruega ou do 1,2% da Islândia.
A EPIS juntou quatro ex-governantes da educação no mesmo debate: além de David Justino, também Eduardo Marçal Grilo, Maria de Lurdes Rodrigues e Joaquim Azevedo. Revelaram-se unidos contra o insucesso, retenção e abandono. E defensores de uma intervenção precoce eficaz e de medidas de apoio diferenciadas para cada aluno.
“Nenhum aluno pode ser deixado para trás”, insistiu Joaquim Azevedo, sublinhando que os percursos alternativos, como os profissionais, não podem continuar “pobres para pobres”.
Maria de Lurdes Rodrigues considera essencial alcançarse consenso nacional em três áreas: a formação de adultos, a idade em que os jovens devem ser encaminhados para o ensino vocacional (a ex-ministra considera que a integração precoce contraria a Lei de Bases do Sistema Educativo) e a relação entre exames e medidas de recuperação. “O termómetro não baixa a febre”, referiu.
Já Marçal Grilo defende que o país precisa de um choque de bom senso: “Menos Ministério e mais escola, menos sindicatos e mais professores”.