Jornal de Notícias

Tinha confessado morte de advogada mas agora diz não se lembrar

Acusado de homicídio, em Estremoz, alegou em tribunal falhas de memória por estar sob medicação

- Teixeira Correia policia@jn.pt

“ESTOU sob medicação muito forte e não me lembro de nada. Não estou em condições de me lembrar de nada”, foram palavras muitas vezes usadas por Francisco Borda d’Água, empresário de Estremoz, quando questionad­o sobre a morte da advogada Natália de Sousa, crime pelo qual começou ontem a ser julgado, no Tribunal de Évora.

O arguido apresentou-se em tribunal com barba crescida, olhar profundo e distante, voz trémula, camisola de malha com um buraco à frente e outro atrás.

Ao ser questionad­o sobre as razões do divórcio – a vítima era advogada da mulher – Francisco afirmou ser “uma situação muito grave de que não falava”, acrescenta­ndo, quando a juíza lhe perguntou se era traído pela mulher: “Envergonho-me dela”.

Sobre os factos ocorridos no dia 6 de maio do ano passado no gabinete da vítima, Francisco disse, a chorar: “Cometi um crime sem querer, mas não sei explicar o que se passou. Soube depois que morreu uma advogada”. A juíza, que o acusou de ter “memória seletiva para algumas coisas”, perguntou-lhe depois o que queria dizer com “cometer crime sem querer” e se tinha a ver com o divórcio. Ele respondeu: “Não sei explicar”.

“Estava esgotado”

Dada a insistênci­a do arguido em “recorrer” à forte medicação para não se lembrar dos factos, o procurador do Ministério Público requereu que fossem ouvidas as suas declaraçõe­s em primeiro interrogat­ório, o que foi subscrito pela Ordem dos Advogados, que se constituiu assistente no processo. É que nessa altura, dois dias após a morte, Borda d’Água tinha dito: “Agarrei no pescoço da advogada e bati-lhe com a cabeça no chão duas ou três vezes. Estava viva quando saí do escritório. Soube na esquadra, depois de preso, que ela tinha morrido”. Alegara ainda que nunca teve intenção de matar.

“Fui ao escritório mostrarlhe umas fotografia­s da minha mulher com o amante, para não lhe pagar a pensão que ela queria. A advogada empurrou-me e disse que me estragava a vida. Estava esgotado da cabeça e passei-me”, tinha dito, após a detenção.

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LUÍS BRANCO GLOBAL IMAGENS

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