Escultor dá jardim à sua terra natal
TROFA Alberto Carneiro cria espaço com 500 esteios em S. Mamede do Coronado, numa homenagem aos pais
“AQUELA OBRA é o meu corpo”, diz-nos Alberto Carneiro, depois de as centenas de graníticos esteios de que é feita terem guiado a conversa até à meninice do mestre escultor e à ligação visceral à terra, qual videira que se estica na ramada até dar uva.
O enorme trabalho – é composto por perto de 500 esteios que desenham um jardim em S. Mamede do Coronado, Trofa – começou a ganhar forma em 2013 e vai ser mostrado pela primeira vez ao público às 11 horas de sábado, dia escolhido pelo artista por ser o da árvore, elemento central da sua obra, e por marcar o início da primavera.
De novo – e sempre – a Natureza, que sorveu na vivência intensa do campo e lhe moldou o percurso artístico a partir do final dos anos 60.
Tom biográfico
Ofereceu a obra à terra natal e batizou-a de Jardim Escultura Alberto Carneiro 19972015, num justo registo em tom biográfico. Afinal, ela fala-nos de boa parte da vida do mestre – das raízes primordiais à arte ecológica que desenvolveu, herdeira da “Land Art” e profundamente marcada pela experiência com a terra. “Se não tivesse nascido rural, a minha obra seria muito diferente”, reconhece. Será por isso, também, que dedica o jardim escultura a S. Mamede, onde, afinal, tudo começou. Num Vale do Coronado da primeira metade do século XX – Alberto Carneiro nasceu em 1937 –, pobre e de subsistência agrícola. “É uma homenagem aos meus conterrâneos e, acima de tudo, aos meus pais. Particularmente, à minha mãe, a quem devo tudo”, define. Os esteios, fincados na terra que nunca deixou, compõem um labirinto que o mestre também oferece às “crianças de hoje”. E à memória da que foi outrora e que se lhe esboça no rosto quando ri. “Além da forma e sentido labiríntico, estava também a pensar muito na criança que fui, nas minhas brincadeiras. Trepei muitas vezes aos esteios para apanhar uvas”, lembra.
A escultura, cujo projeto começou em 1997, fica em terreno camarário contíguo à casa onde o artista vive e trabalha, perto da igreja, num espaço aberto ao público.
LABIRINTO SERÁ UM ESPAÇO ABERTO E LOCALIZA-SE EM LOTE CAMARÁRIO “Se não tivesse nascido rural a minha obra seria muito diferente”. Alberto Carneiro Escultor