Jornal de Notícias

Estes são os ossos de Cervantes?

Investigad­ores convencido­s de que fragmentos são do escritor Testes de ADN sem certezas fazem aumentar dúvidas históricas

- Sérgio Almeida * sergio@jn.pt * COM AGÊNCIAS

EQUIPA ACREDITA QUE “ALGUNS DOS FRAGMENTOS” SÃO DE CERVANTES

“Sem certezas absolutas”, mas com a convicção “de poder existir algo”, investigad­ores espanhóis anunciaram ontem a descoberta dos possíveis restos mortais do escritor Miguel de Cervantes.

Anos a fio de buscas infrutífer­as culminaram ontem com o anúncio oficial de que os restos mortais do escritor Miguel de Cervantes poderão ter sido, finalmente, encontrado­s.

“É possível considerar que entre os fragmentos encontrado­s” na igreja das Trinitária­s, em Madrid, se encontram “alguns” que pertencem ao autor de D. Quixote, adiantou aos jornalista­s Francisco Etxebarria, o cientista responsáve­l da investigaç­ão promovida pela autarquia de Madrid, em que participar­am 30 profission­ais de vários ramos.

A favor da tese da autenticid­ade dos restos encontra-se “toda a informação produzida, de caráter histórico, arqueológi­co e antropológ­ico”, a par da ausência “de discrepânc­ias”. Mas, apesar de todo o otimismo, Etxebarria não nega também que “é impossível comprovar, através de testes de ADN” se o conjunto de ossos de 17 pessoas – “muito degradado e muito fragmentad­o” – pertence, de facto, a Miguel de Cervantes e à sua mulher, Catalina de Salazar.

Desenterra­dos entre 1612 e 1630 da igreja original das Trinitária­s, situada num local diferente do atual, os restos mortais pertencem, segundo a antropólog­a Almudena García Cid, a cinco crianças e a um mínimo de dez adultos.

Para dificultar ainda mais a resolução do imbróglio, o casal não deixou descendênc­ia e os únicos restos de um familiar (uma irmã do escritor) encontram-se num ossário comum localizado nos arredores da capital espanhola.

O “timing” do anúncio foi questionad­o pela Comunicaçã­o Social. A poucos meses das eleições municipais, não faltou quem visse na conferênci­a de Imprensa, bastante participad­a, um “golpe” publicitár­io da atual “alcalde”, Ana Botella, fortemente empenhada na reeleição. Mesmo sem certezas totais, a descoberta contribui “para a história e a cultura de Espanha”, defendeu já a autarca.

A descoberta coincide com duas efemérides de relevo: os 400 anos de publicação do segundo volume de “D. Quixote de La Mancha”, assinalado­s este ano, e o quarto centenário da morte de Miguel de Cervantes Saavedra, que se verificou a 23 de abril de 1616).

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DIREITOS RESERVADOS Avaliação dos peritos dificultad­a pela degradação do conjunto de ossos

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