Estudantes denunciam casos de pobreza e abandono
Centenas de alunos do Básico e Secundário, pelo país fora, pediram a demissão do Governo Mais apoios sociais, obras e funcionários, e menos alunos por turma são as principais reivindicações
Diversas associações de estudantes do básico e do secundário protestaram ontem, em várias cidades, contra os cortes orçamentais na escola pública. Foram exigidos mais meios e a demissão do Governo.
São sempre casos sem rosto, mas não há entre as associações quem não conheça alunos que abandonaram a escola para irem trabalhar, que faltam por não ter dinheiro para o passe ou ainda a quem falta material no fim do segundo período.
“Na minha escola não, mas conheço muitos estudantes a quem os apoios da Ação Social Escolar não chegam e ainda lhes falta livros, ou quem viva na periferia de Gaia e tenha dificuldade em ir para escola sem passe”, conta ao JN Inês Pereira, da Associação de Estudantes da Secundária Almeida Garrett, de Vila Nova de Gaia. É um exemplo de uma denúncia repetida nos protestos. Os diretores há muito fazem os mesmos alertas. Há agrupamentos que abrem as escolas nas férias para manter as cantinas a funcionar. E, apesar de a Ação Social Escolar ser das áreas que “funcionam melhor” no setor – repetem frequentemente os dirigentes das associações de diretores, Manuel Pereira e Filinto Lima –, o maior problema são as muitas famílias de classe média não abrangidas pelos apoios.
“A alimentação também é um fator de sucesso. Os miúdos com fome não aprendem, ficam é indisciplinados”, afirma Filinto Ramos Lima, vicepresidente da associação de diretores (Andaep) e diretor da Básica Dr. Costa Matos, (Gaia), uma das que abrem todos os meses do ano.
“O MEC devia aumentar os subsídios e o leque de famílias abrangidas. Há uma franja da classe média desprotegida. Ainda esta semana, descobri um aluno que ia para a escola sem pequeno-almoço. Não tem ação social, tivemos de recorrer às verbas do bar e da papelaria para o apoiar.”
Porto, Lisboa, Braga, Santarém e Setúbal foram algumas das capitais de distrito que receberam protestos. A demissão do Governo, devido aos sucessivos cortes orçamentais, e mais meios são as exigências dos estudantes. Querem mais funcionários nas escolas, a requalificação dos edifícios para “deixarem de ter aulas em contentores ou em pavilhões com tetos a cair”, menos alunos por turma, manuais mais baratos e descontos nos passes.
“Os professores, nas primeiras semanas, aceitam. Mas não se consegue estudar sem os livros todos e uma falta de material pode equivaler a uma de presença”, frisa Inês Pereira.