Oposição diz que “zanga” com FMI cheira a eleições
Ministro sugere orelhas de burro por Fundo falhar previsões PS fala em guerra de “comadres”, PCP e BE denunciam manobra eleitoralista
O conflito entre Governo e FMI subiu ontem de tom, com Pires de Lima a pôr orelhas de burro na organização. Mas a Esquerda garante que a “zanga de comadres” não passa de um jogo eleitoral, embora “degradante”.
Atroca de acusações entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Governo português não é de agora. Porém, a escolha de palavras do ministro da Economia voltou ontem a dar que falar.
A propósito do relatório da avaliação anual do FMI relativo a Portugal, Pires de Lima disse não ter “idade para receber puxões de orelhas”. “Nem os portugueses”, reagiu à TSF, avisando que “não vão apanhar orelhas nenhumas”.
O ministro crê que o FMI utiliza estes relatórios para fazer “prova de vida” e, para isso, tem de usar “um tom provocatório”. Mas foi mais longe ao desejar que o FMI “não tenha que pôr orelhas, daquelas que se punham na escola, por ter errado tanto ao nível das previsões da matéria de consolidação orçamental” e “por errar todas” no emprego. O ministro prevê que o desemprego seja menos de 13% este ano.
A equipa do FMI deixou claro, esta semana, que não acredita no cumprimento do défice e que tem sérias dúvidas quanto ao crescimento até 2019 e ao empenho do país nas reformas estruturais.
Sobre a tensão com o FMI, o comissário europeu Carlos Moedas já sugeriu que serão apenas os técnicos a tentar “picar” o poder político para fazer as reformas. Mas o FMI terá receio que sejam sacrificadas por motivos eleitorais.
Para a Oposição, são precisamente essas razões eleitorais que estão na base da tensão. “É uma zanga de comadres”, disse, ao JN, João Galamba, deputado e dirigente nacional do PS, notando que, “após terem estado alinhados entusiasticamente” no programa de ajustamento, Governo e FMI “estão agora enredados num jogo um pouco degradante de passa culpa”. “A prova de que a estratégia fracassou é que todas as boas notícias para o país são por fatores alheios ao Governo”, diz ainda.
Já o deputado do PCP António Filipe afirmou ao JN que “o Governo parece muito zangado com o FMI porque, com eleições à porta, quer dar
“A prova de que a estratégia defendida por ambos fracassou é que o FMI, quando revê em alta o PIB português para 2015, deixa claro que as únicas razões são factores externos ao país”
João Galamba
Dirigente do PS
a ideia de que a sua atitude é agora totalmente diferente”. Mas “não é a primeira vez que o FMI faz este discurso” e “o Governo sempre apoiou as medidas, cujo fracasso está mais que demonstrado”.
Segundo Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, “após o Governo ter sido absolutamente submisso à troika”, ninguém acredita quando “enche o peito de ar”, procurando, em vésperas de eleições, “redimir- se dessa submissão”.