“Cofres cheios” da ministra e “bolsos vazios” de Costa
Reservas valem 17 mil milhões. Líder do PS lembra “bolsos vazios” dos portugueses
A MINISTRA das Finanças disse, anteontem à noite, no encerramento das jornadas parlamentares do PSD, em Pombal, que o Tesouro “tem os cofres cheios”, isto é, tem uma reserva de depósitos que dá “tranquilidade” ao Governo caso aconteça mais alguma desgraça na Zona Euro.
De acordo com dados do Banco de Portugal, o nível de numerário e depósitos do setor público nunca foi, de facto, tão alto. O problema é que tem de se pagar juros por estes recursos. No final de janeiro, a reserva de dinheiro valia 17 049 milhões de euros, o valor mais alto de que há registo e que traduz um aumento de 55% face à situação do mês homólogo.
Mas este dinheiro é dívida. Não é um excedente gerado pelo bom desempenho orçamental deste Governo, mas antes pelas sucessivas idas aos mercados para contrair mais empréstimos. Este dinheiro faz aumentar o rácio de dívida de Maastricht. E também pressiona o défice, já que implica o pagamento de juros por estes recursos. Em todo o caso os juros têm vindo a baixar, estando hoje em mínimos históricos.
O problema é que, apesar dos juros baixos, a dívida bruta total atingiu, em janeiro, o valor mais elevado de sempre, batendo mais um recorde. Por muito baixas que estejam as taxas de juro, a fatura anual do serviço da dívida é cada vez mais elevada por isso mesmo. Os “cofres cheios” agravam ainda mais a situação. Em 2014, os contribuintes pagaram 8,1 mil milhões de euros em juros, quase metade do que está no “cofre” da ministra.
“Bolsos vazios”, diz PS
Mas onde Maria Luís Albuquerque vê “cofres cheios” o líder do PS vê “bolsos vazios”. Quando se olha para a dívida pública, “está lá tudo e está também o conforto de saber que temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que, se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado”, podemos satisfazer “todos os nossos compromissos”, disse a ministra.
António Costa acusou o Governo de “viver num mundo fora da realidade”. “Os portugueses é que, infelizmente, estão com os bolsos vazios”, disse, em Bruxelas, citado pela Lusa. O Governo, disparou, tem a ideia de que “os portugueses estão mal e o país está bem, como se o país não fossem as pessoas”.
Nas jornadas, e perante uma plateia composta por jovens, a governante, questionada sobre matérias relacionadas com a natalidade, desafiou, segundo a Lusa, os presentes a multiplicarem-se: “Independentemente dos benefícios e dos estímulos e do interesse que temos em estimular isso, vocês, que são jovens, multipliquem-se”. Maria Luís Albuquerque, que tem três filhos pequenos, reconhece que “há pessoas que gostariam de ter mais filhos e não podem porque não têm condições”, mas “a verdade é que havendo condições razoáveis eles criam-se e compensa”.