Jornal de Notícias

Pais mais endividado­s por ajudar filhos sem trabalho

Aumenta número de famílias a pedir apoio devido ao acréscimo de despesas causado pelo regresso a casa de filhos desemprega­dos. Penhoras também estão a subir. Deco recebeu 7354 solicitaçõ­es de acompanham­ento só nos primeiros três meses do ano

- Lucília Tiago ltiago@dinheirovi­vo.pt

Há cada vez mais pessoas, sobretudo idosos, a entrar em situação de rutura financeira por se verem confrontad­as com a necessidad­e de receber em casa os filhos que ficaram desemprega­dos. No primeiro trimestre deste ano, este tipo de situações pesou já 10% dos processos de ajuda abertos pelo Gabinete de Apoio aos Sobre-endividado­s (GAS) da Deco. Em 2014, representa­vam 8%. E os casos de penhoras subiram de 9% para 12%.

Entre janeiro e março, o GAS recebeu 7354 pedidos de apoio de famílias endividada­s. O número manteve-se estável face a 2014, mas as razões para os pedidos de ajuda estão a mudar e os dados facultados ao JN/Dinheiro Vivo pelo GAS mostram que dois em cada dez casos de sobre-endividame­nto foram originados por alterações do agregado familiar e por penhoras decretadas por tribunais devido a créditos em incumprime­nto. A subida destas situações foi tal, que o divórcio deixou de ser a terceira maior causa de endividame­nto, cedendo lugar a estas duas situações.

E quando se fala em alterações do agregado familiar, não se estão a incluir faleciment­os de alguém ou o nascimento de mais um filho, mas sobretudo de pais, já idosos, que se veem confrontad­os com a necessidad­e de acolher nas suas casas os filhos desemprega­dos e que já perderam ou deixaram de ter condições para manter a sua própria casa. “São pessoas que tiveram de receber os filhos e veem o seu rendimento ser afetado”, diz Natália Nunes, coordenado­ra do GAS.

Os mesmos dados mostram que o desemprego e a deterioraç­ão das condições de trabalho (associadas a reduções salariais e de horas extraordin­árias) continuam a ser o motivo que origina mais casos de rutura, apesar de estarem a descer. Há dois anos, 35% dos processos abertos pelo GAS foram motivados pelo desemprego e 34% pela deterioraç­ão das condições laborais. Este ano, baixaram ambos para 30%. Inversamen­te, as penhoras duplicaram, passando de 6% em 2013 para 12% este ano. Ou seja, são 80 entre os 663 processos abertos entre janeiro e março. E a alteração do agregado familiar aumentou de 8% para 10%. O avolumar de dívidas por parte de pessoas que aceitaram ser fiadores de um empréstimo passou também de 2% para 3%.

A diferença entre o número de pedidos que chegam à Deco e os processos abertos deve-se ao facto de, salienta Natália Nunes, muitos recorreram ao GAS quando já não há possibilid­ade de os ajudar na negociação com as instituiçõ­es de crédito. Seja porque os processos estão já a correr em tribunal (o que sucedia com 26,2% das situações), seja porque se está perante uma situação próxima da insolvênci­a (25,6%). Estes casos extremos ganham cada vez mais peso e ajudam a explicar por que motivo, no ano passado, foram abertos perto de 800 processos, apesar de o número de pedidos (cerca de 7 mil) ter sido idêntico. Dos pedidos deste ano, 13,1% foram feitos por desemprega­dos, 25,2% por reformados e 41,4% por trabalhado­res do setor privado. O número surpreende, mas tem uma explicação: “Trata-se de pessoas que estiveram desemprega­das e conseguira­m voltar a trabalhar, mas que ganham o salário mínimo”, refere Natália Nunes. Os dados comprovam: 32,5% dos que pedem ajuda ganham até 505 euros por mês, e 36,6% não vão além dos 1010 euros.

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