Vendem-se 23 mil embalagens todos os dias
Em Portugal, 17% da população sofre desta doença ao longo da vida, revela a Ordem dos Psicólogos Portugueses
No ano passado, foram vendidas oito milhões de embalagens de antidepressivos em Portugal, o que dá uma média de23 287 por dia. No nosso país, alerta a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), 17% da população sofre de depressão ao longo da vida. Uma doença “extremamente debilitante, com múltiplos fatores, mas acentuada devido a um contexto de crise”.
Telmo Mourinho Baptista, bastonário da OPP, revela que “uma pes-
“O que se pode dizer a um paciente é que ninguém sobe o Everest de uma só vez, é um passo atrás do outro”
soa que sofre de depressão tem 50% mais de incapacidade do que uma pessoa com angina de peito, artrite, asma ou diabetes”. E vai mais longe: “A dor mental é tão real quanto a dor física, muitas vezes é até mais grave”.
A estatística não é favorável e, mesmo assim, no que diz respeito à percentagem da população com depressão, “estará aquém da realidade, até porque muita gente não pede ajuda e não o faz por causa do estigma”, esclarece. De acordo com os indicadores com que a OPP trabalha, 75% das pessoas que tiveram problemas de saúde psicológica foram alvo de preconceitos. “Estes são muitas vezes desvalorizados, encarados como caprichos ou preguiça”, mas a verdade é que “no limite, uma depressão não tratada pode até levar ao suicídio”. Um sistema que pouco ajuda Existe o estigma e existe insuficiente estrutura para dar conta deste problema. Em anos de crise, avança o bastonário, “a intervenção ao nível privado, por exemplo, tem-se ressentido bastante, porque as pessoas, se têm filhos, cortam primeiro nos cuidados com elas próprias”. E o Sistema Nacional de Saúde (SNS) é, no mínimo, “um desafio”.
“Primeiro, não é assim tão fácil arranjar uma consulta de psicologia no SNS, depois são espaçadas, às vezes apenas uma vez por mês; e a média do tempo de duração de cada uma é de meia hora. Além disso, o SNS não tem psicólogos em número suficiente”, denuncia. O bastonário esclarece que “para um doente destes, uma vez por semana deveria ser a média e, numa primeira fase até mais”.
A maioria das depressões, sublinha, são reativas, ou seja, são determinadas por fatores externos, como, por exemplo, o desemprego. Seja qual for o fator, a depressão apresenta depois três dimensões: a desvalorização individual (perda de autoestima); a desvalorização do Mundo (a pessoa não sente vontade de ter vida social); e a desvalorização do futuro, ou seja, a pessoa deprimida sente que o futuro não tem nada para lhe oferecer.
Isto trata-se? “Trata, mas é preciso querer ser tratado e é preciso maior estrutura por parte de todo o nosso sistema”. O que pode dizerse, à partida, a alguém com depressão? “Que ninguém sobre o Everest de uma vez só, é um passo atrás do outro”.