Jornal de Notícias

Legislativ­as ou presidenci­ais?

- José F. G. Mendes Professor catedrátic­o da Universida­de do Minho

Com o alongar da lista de proto-candidatos a Presidente da República, políticos, comentador­es e jornalista­s entretêm-se no exercício de adivinhaçã­o das intenções, dos programas e, sobretudo, dos apoios partidário­s de cada um. Os caprichos do calendário colaram legislativ­as e presidenci­ais, com um intervalo de quatro meses. Não é grande problema para candidatos com elevado nível de reconhecim­ento. Espera-se dos maiores partidos a escolha de uma cara conhecida. Assim é no PSD, com Marcelo, Santana e Rio. Do lado do PS, as recusas de Guterres, Gama e Vitorino (para já) motivaram o avanço de Sampaio da Nóvoa, este, sim, com um apreciável défice de notoriedad­e.

E aqui surge o dilema do líder socialista. Nóvoa é apenas conhecido nos círculos da elite lisboeta. Mesmo no meio académico do resto do país, passa despercebi­do. Na verdade, saltou para a ribalta muito recentemen­te e pela mão de Mário Soares. A ser o candidato socialista, necessita de fazer um longo caminho, que se mede em quilómetro­s de estrada, horas de antena e páginas de jornal. Teria de começar já. Mas o candidato a primeiro-ministro António Costa precisa de ter a estrada, a antena e os jornais focados em si, de forma a protagoniz­ar mais eficazment­e o seu projeto de oposição e fazer germinar no imaginário do eleitor uma alternativ­a socialista à governação de Passos Coelho. A presença de um outro protagonis­ta da esfera socialista nos média acarreta um elevado risco de contaminaç­ão da estratégia de Costa. Os jornalista­s tenderão a explorar as diferenças entre o candidato a primeiro-ministro e o candidato a Presidente da República, deixando campo aberto para que o líder social-democrata e atual chefe do Governo desenvolva mais tranquilam­ente a sua campanha, algo que aliás tem feito recentemen­te com uma certa dose de eficácia.

Do lado de Passos Coelho, que entretanto tem de fechar um acordo de coligação pré-eleitoral com o CDS/PP que parece emperrado, é linear a opção de empurrar para outubro a escolha do seu candidato. Já para Costa, o quadro é mais complexo. Consideran­do a necessidad­e absoluta de recentrar o debate político nas legislativ­as e nos méritos das propostas alternativ­as para a governação, creio que a melhor decisão seria igualmente congelar as presidenci­ais até outubro, mesmo que isso prejudique um candidato de menor notoriedad­e. Afinal de contas, Costa tomou o poder no PS justamente com a promessa de tentar mudar o destino governativ­o de Portugal.

A presença de um outro protagonis­ta da esfera socialista nos média acarreta um elevado risco de contaminaç­ão da estratégia de Costa

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