Legislativas ou presidenciais?
Com o alongar da lista de proto-candidatos a Presidente da República, políticos, comentadores e jornalistas entretêm-se no exercício de adivinhação das intenções, dos programas e, sobretudo, dos apoios partidários de cada um. Os caprichos do calendário colaram legislativas e presidenciais, com um intervalo de quatro meses. Não é grande problema para candidatos com elevado nível de reconhecimento. Espera-se dos maiores partidos a escolha de uma cara conhecida. Assim é no PSD, com Marcelo, Santana e Rio. Do lado do PS, as recusas de Guterres, Gama e Vitorino (para já) motivaram o avanço de Sampaio da Nóvoa, este, sim, com um apreciável défice de notoriedade.
E aqui surge o dilema do líder socialista. Nóvoa é apenas conhecido nos círculos da elite lisboeta. Mesmo no meio académico do resto do país, passa despercebido. Na verdade, saltou para a ribalta muito recentemente e pela mão de Mário Soares. A ser o candidato socialista, necessita de fazer um longo caminho, que se mede em quilómetros de estrada, horas de antena e páginas de jornal. Teria de começar já. Mas o candidato a primeiro-ministro António Costa precisa de ter a estrada, a antena e os jornais focados em si, de forma a protagonizar mais eficazmente o seu projeto de oposição e fazer germinar no imaginário do eleitor uma alternativa socialista à governação de Passos Coelho. A presença de um outro protagonista da esfera socialista nos média acarreta um elevado risco de contaminação da estratégia de Costa. Os jornalistas tenderão a explorar as diferenças entre o candidato a primeiro-ministro e o candidato a Presidente da República, deixando campo aberto para que o líder social-democrata e atual chefe do Governo desenvolva mais tranquilamente a sua campanha, algo que aliás tem feito recentemente com uma certa dose de eficácia.
Do lado de Passos Coelho, que entretanto tem de fechar um acordo de coligação pré-eleitoral com o CDS/PP que parece emperrado, é linear a opção de empurrar para outubro a escolha do seu candidato. Já para Costa, o quadro é mais complexo. Considerando a necessidade absoluta de recentrar o debate político nas legislativas e nos méritos das propostas alternativas para a governação, creio que a melhor decisão seria igualmente congelar as presidenciais até outubro, mesmo que isso prejudique um candidato de menor notoriedade. Afinal de contas, Costa tomou o poder no PS justamente com a promessa de tentar mudar o destino governativo de Portugal.
A presença de um outro protagonista da esfera socialista nos média acarreta um elevado risco de contaminação da estratégia de Costa