Jornal de Notícias

Um dos melhores vinhos do Mundo vem do histórico Vale Meão

F. Olazabal & Filhos A famosa quinta criada de raiz pela “Ferreirinh­a”, em Vila Nova de Foz Côa, produz um dos melhores tintos a nível mundial. Em breve, vai colocar no mercado vinhos do Porto velhos.

- Eduardo Pinto TEXTOS Carlos Oliveira FOTOS

Se há quinta na Região Demarcada do Douro (RDD) com uma história verdadeira­mente peculiar, essa é a Quinta do Vale Meão, no concelho de Vila Nova de Foz Côa. Surgiu em terreno virgem há mais de 130 anos, por vontade de D. Antónia Adelaide Ferreira – que ficou conhecida como “Ferreirinh­a” – foi o berço do famoso vinho Barca Velha, e o ano passado colocou o seu melhor vinho tinto DOC Douro, o Quinta do Vale Meão, entre os quatro melhores do Mundo, na avaliação feita pela revista norte-americana “Wine Spectator”.

Francisco Olazabal, enólogo e responsáve­l da área técnica da sociedade familiar F. Olazabal & Filhos, Lda., diz que a quarta avó, D. Antónia, “foi uma visionária” quando, apesar de já ser a maior proprietár­ia agrícola da região, comprou, à Câmara de Vila Nova de Foz Côa, 300 hectares de terreno onde não havia uma única cepa, até estava fora da RDD e não tinha acesso ferroviári­o. Mas foi lá que quis criar uma exploração modelo de raiz – de que pouco gozou, pois morreu em 1896 – onde chegaram a trabalhar mil pessoas ao mesmo tempo durante o processo de reconversã­o, plantando vinha, olivais e sobreiros, construind­o casas, capelas, um lagar de azeite, entre outros equipament­os.

A Quinta do Vale Meão foi-se mantendo em posse dos descendent­es da “Ferreirinh­a” e foi nos anos 70 do século passado que o trineto Francisco Javier de Olazabal iniciou a compra das partes de outros herdeiros e copropriet­ários, até que em 1994 se tornou o único dono da quinta, juntamente com os seus filhos (Francisco, Jaime e Luísa).

Em 1998 deixaram de vender as uvas à empresa A. A. Ferreira SA, também ligada à “Ferreirinh­a”, e no ano seguinte começaram a produzir os seus próprios vinhos. “Desde então sempre quisemos fazer bem, com qualidade”, recorda Francisco Olazabal, grato pela “sorte de ter uma quinta com caracterís­ticas muito especiais, difíceis de encontrar no Douro”. Sendo atravessad­a pela falha geológica da Vilariça, “tem diferentes tipos de so- los numa área relativame­nte pequena, para além da boa exposição solar e do terreno não muito acidentado”.

As castas, com destaque para a Touriga Nacional, estão separadas e de acordo com os diferentes tipos de solo. Esta aposta, que começou a ser feita pelo seu pai ainda na década de 60 do século passado, mesmo sendo um economista que nunca tinha feito vinhos, permite que agora a Quinta do Vale Meão possa ter vinhas de Touriga Nacional – casta base dos melhor vinhos da quinta – com 40 anos, plantadas numa altura em que quase ninguém apostava nela, por ser pouco produtiva.

A F. Olazabal & Filhos, Lda. começou por apostar apenas na produção de vinhos tintos. Só o ano passado é que lançou um branco, com base em uvas arinto e rabigato

“Queremos ter sempre a melhor qualidade possível, nem que para isso tenhamos de reduzir aos resultados”

compradas a outro produtor daquela zona. Há duas semanas, a empresa acabou por comprar a vinha que produz a rabigato, que fica a 400 metros do Vale Meão. “Se queremos produzir um vinho com origem tínhamos de ser proprietár­ios dessa vinha”, nota Francisco Olazabal.

Mais do que produzir com qualidade, o enólogo diz que o segredo para o sucesso tem sido a sua “consistênc­ia”. Ou seja, não ter anos excecionai­s e outros menos bons. “Queremos ter sempre a melhor qualidade possível, nem que para isso tenhamos de reduzir aos resultados da nossa empresa, e ter uma identidade própria”.

Ao mesmo tempo, confessa ter “alguma precaução” perante a fama, ressalvand­o que a quinta já teve os seus vinhos “por cinco vezes no top 100 da ‘Wine Spectator’”, embora só o quarto lugar do ano passado tenha tido grande visibilida­de. E isto, sublinha, “dá garantia ao consumidor que não há grandes variações da qualidade”.

A melhor classifica­ção de sempre não aumenta ou diminui a responsabi­lidade, já que a quinta já tinha uma tradição ligada ao Barca

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