Se quer beijar, vá até Aveiro

“Spots” na cidade incentivam as pessoas a beijar e a abraçar quem têm ao lado. Ideia nasceu de uma estrangeira que criou a associação Agora Aveiro

Duas palavras apenas podem transformar um dia triste num dia repleto de boas energias. “Agora beijame” é um dos reptos lançados pela Agora Aveiro, uma associação que nasceu em 2010 para transformar a cidade da ria na “capital dos sentimentos positivos”. E ao mandamento, as pessoas respondem com um beijo a quem têm ao lado, ao mesmo tempo que se desenha o sorriso. Em Aveiro, há cinco locais para beijar (“kissing spots”), espalhados por sítios inusitados, para que ninguém se esqueça que demonstrar um sentimento ainda é gratuito... Hoje, assinalase justamente o Dia Internacional do Beijo.

Natasa Golosin, de 34 anos, natural da Sérvia, foi a pessoa que prometeu encher Aveiro de boas energias, através da associação que ajudou a fundar. Inspirada pelo “Projeto Amélie”, de Lisboa, a Agora Aveiro pintou em cinco paredes da cidade duas frases simples: “Agora beija-me” e “Agora abraça-me”.

“Ouvimos as pessoas queixarem-me de tudo e sabemos que, por vezes, nem sequer apreciam o que têm. Pensámos que seria uma boa ideia lembrá-las de beijar ou abraçar alguém e que seria uma forma de tornar os seus dias mais harmoniosos, brilhantes e felizes”, explica Natasa, coordenadora de projetos da associação, acrescentando que “há casais que se esquecem de beijar durante dias e dias”. “Cá em Portugal, às vezes damos mais beijinhos a desconhecidos do que às pessoas mais próximas”, sublinha. A ideia parece ter resultado. “Camuflada”, Natasa já se pôs a observar alguns dos “spots”. “As reações foram maravilhosas. Imensos sorrisos, imensos beijos, sentimentos imensamente felizes”, conta ao JN.

Até a universidade quer um “spot”

Atualmente, Aveiro conta com cinco “kissing spots” e “hugging spots” (estes últimos dedicados a abraços), mas o número pode crescer em breve. “Temos recebido convites de várias pessoas, e até de empresas, para criar outros “spots”, como, por exemplo, numa sala da universidade, que, pelos vistos, precisa de um local para beijar”, diz Natasa a sorrir.

Para já, as frases mantêm-se pintadas numa parede perto da entrada do edifício Fernando Távora (Casa da Cultura), outra na rua Tenente Resende (ao lado do Museu da Cidade), na rua Luís Cipriano (junto aos Paços do Concelho), à beira da Secundária Homem Cristo e debaixo de uma das pontes do canal central. O próximo passo da associação será estabelecer parcerias com outras entidades para colocar em prática novas ideias e para criar mais “spots”.

O beijo é uma língua internacional

Natasa não está sozinha na missão de incentivar os portugueses a beijar. Mas, curiosamente, conta com jovens igualmente estrangeiras, que estão empenhadas na missão de colocar Portugal a demonstrar afetos. Desde fevereiro e durante sete meses, tem consigo quatro voluntárias, que estão na Agora Aveiro através do programa Erasmus+, na modalidade de Serviço Voluntário Europeu. Wiola Starczewska, de 27 anos, da Polónia, Tatjana Veselova, de 26, natural da Letónia, e Tea Vukicevic, de 24, e Jasna Vejic, de 25, ambas da Croácia, estão a conhecer a vida local, o ritmo da cidade e são desafiadas a implementar as suas próprias ideias. Sempre com um objetivo em mente: possibilitar emoções positivas.

“Estamos sempre preocupados com dinheiro e com a crise e não nos lembramos que as coisas mais importantes da vida são gratuitas”, conclui Natasa.

Há uma espécie de roteiro de beijos para ser seguido na cidade de Aveiro. Cinco sítios onde é impossível não beijar nem abraçar quem temos ao nosso lado