Tragédia no Mediterrâneo obriga líderes europeus a agir
Mediterrâneo Cimeira de chefes de Estado e de Governo convocada de urgência para depois de amanhã. Nações Unidas querem tratamento de fluxo de imigrantes de “maneira menos desumana”
Apanhada em plena crise humanitária no mar Mediterrâneo – ainda ontem mais um barco naufragou ao largo da ilha grega de Rodes e dois com 450 ocupantes estavam a ser socorridos – , a União Europeia acordou ontem, “finalmente”, para a gravidade da situação e para a necessidade de medidas. Depois de amanhã, realiza uma cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo para aprovar uma dezena de medidas imediatas.
Entre as medidas, apresentadas pelo comissário europeu das migrações numa reunião de urgência dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna, ontem no Luxemburgo, está o reforço das operações no Mediterrâneo, com mais meios financeiros e de patrulhamento.
O plano prevê também um “esforço sistemático” para capturar e destruir embarcações de traficantes de seres humanos, encontros regulares entre o Europol, o Frontex e o Eurojust, projetos-piloto de reinstalação de requerentes de asilo, e intensificação do diálogo com os países do norte de África, antecipou Dimitris Avramopoulos.
Mas o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos elevou a fasquia, pedindo à UE que lide com os fluxos de imigração de maneira “mais sofisticada, mais corajosa e menos desumana”. As 950 mortes de domingo e as centenas dos últimos meses “são o resultado de um fracasso de gestão e um monumental fracasso de compaixão”, disse Zeid Ra’ad al-Hussein.
Criticando a substituição da operação italiana Mare Nostrum pela europeia Tritão, “mais focada no controlo de fronteiras que em salvar pessoas”, e pedindo a ampliação das vias legais de imigração, avisou que, ao “virar as costas a alguns dos imigrantes mais vulneráveis do planeta”, a Europa “arriscase a transformar o Mediterrâneo num cemitério”.
“Como travar os traficantes de
seres humanos que cinicamente ganham dinheiro colocando as vidas dos migrantes em risco; como melhorar os nossos esforços combinados para o salvamento de pessoas em dificuldades; como melhor podemos ajudar os estados-membros mais afetados; e como melhorar a nossa cooperação com os países de origem e de trânsito” são os tópicos da cimeira, na síntese do presidente do Conselho Europeu. Ação imediata Donald Tusk não espera “uma solução definitiva paras as causas rudes das migrações, porque não existem”, mas concordou que a situação “dramática não pode continuar como está”. “Não podemos aceitar que centenas de pessoas morram quando tentam atravessar o mar para a Europa”, acrescentou, pedindo aos estados-membros e às instituições europeias “opções para a ação imediata”.
O facto de participarem ontem mais de quatro dezenas de ministros mostra “um novo sentido de urgência e de vontade política da UE”, comentou a alta representante para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini. “Hoje há um sentido de urgência e de solidariedade face ao tráfico de seres humanos e a necessidade de salvar vidas. E deixem-me acrescentar uma nota pessoal: finalmente”.
Precisamente ontem, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exortou a UE a apoiar os esforços dos países mais expostos à imigração e que estão envolvidos nas operações de socorro no Mediterrâneo, que “se transforma rapidamente num mar de sofrimento para milhares de imigrantes”.
A Itália, a Grécia e Malta “suportam o mais pesado fardo” nas operações de socorro e acolhimento, recordou, pedindo à União que “demonstre a sua solidariedade e intensifique o seu apoio” a esses países, incluindo o reforço da capacidade de salvamento e medidas contra “os criminosos que exploram os mais vulneráveis”.