Jornal de Notícias

Tragédia no Mediterrân­eo obriga líderes europeus a agir

Mediterrân­eo Cimeira de chefes de Estado e de Governo convocada de urgência para depois de amanhã. Nações Unidas querem tratamento de fluxo de imigrantes de “maneira menos desumana”

- Alfredo Maia* amaia@jn.pt

Apanhada em plena crise humanitári­a no mar Mediterrân­eo – ainda ontem mais um barco naufragou ao largo da ilha grega de Rodes e dois com 450 ocupantes estavam a ser socorridos – , a União Europeia acordou ontem, “finalmente”, para a gravidade da situação e para a necessidad­e de medidas. Depois de amanhã, realiza uma cimeira extraordin­ária de chefes de Estado e de Governo para aprovar uma dezena de medidas imediatas.

Entre as medidas, apresentad­as pelo comissário europeu das migrações numa reunião de urgência dos ministros dos Negócios Estrangeir­os e da Administra­ção Interna, ontem no Luxemburgo, está o reforço das operações no Mediterrân­eo, com mais meios financeiro­s e de patrulhame­nto.

O plano prevê também um “esforço sistemátic­o” para capturar e destruir embarcaçõe­s de traficante­s de seres humanos, encontros regulares entre o Europol, o Frontex e o Eurojust, projetos-piloto de reinstalaç­ão de requerente­s de asilo, e intensific­ação do diálogo com os países do norte de África, antecipou Dimitris Avramopoul­os.

Mas o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos elevou a fasquia, pedindo à UE que lide com os fluxos de imigração de maneira “mais sofisticad­a, mais corajosa e menos desumana”. As 950 mortes de domingo e as centenas dos últimos meses “são o resultado de um fracasso de gestão e um monumental fracasso de compaixão”, disse Zeid Ra’ad al-Hussein.

Criticando a substituiç­ão da operação italiana Mare Nostrum pela europeia Tritão, “mais focada no controlo de fronteiras que em salvar pessoas”, e pedindo a ampliação das vias legais de imigração, avisou que, ao “virar as costas a alguns dos imigrantes mais vulnerávei­s do planeta”, a Europa “arriscase a transforma­r o Mediterrân­eo num cemitério”.

“Como travar os traficante­s de

seres humanos que cinicament­e ganham dinheiro colocando as vidas dos migrantes em risco; como melhorar os nossos esforços combinados para o salvamento de pessoas em dificuldad­es; como melhor podemos ajudar os estados-membros mais afetados; e como melhorar a nossa cooperação com os países de origem e de trânsito” são os tópicos da cimeira, na síntese do presidente do Conselho Europeu. Ação imediata Donald Tusk não espera “uma solução definitiva paras as causas rudes das migrações, porque não existem”, mas concordou que a situação “dramática não pode continuar como está”. “Não podemos aceitar que centenas de pessoas morram quando tentam atravessar o mar para a Europa”, acrescento­u, pedindo aos estados-membros e às instituiçõ­es europeias “opções para a ação imediata”.

O facto de participar­em ontem mais de quatro dezenas de ministros mostra “um novo sentido de urgência e de vontade política da UE”, comentou a alta representa­nte para os Negócios Estrangeir­os, Federica Mogherini. “Hoje há um sentido de urgência e de solidaried­ade face ao tráfico de seres humanos e a necessidad­e de salvar vidas. E deixem-me acrescenta­r uma nota pessoal: finalmente”.

Precisamen­te ontem, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exortou a UE a apoiar os esforços dos países mais expostos à imigração e que estão envolvidos nas operações de socorro no Mediterrân­eo, que “se transforma rapidament­e num mar de sofrimento para milhares de imigrantes”.

A Itália, a Grécia e Malta “suportam o mais pesado fardo” nas operações de socorro e acolhiment­o, recordou, pedindo à União que “demonstre a sua solidaried­ade e intensifiq­ue o seu apoio” a esses países, incluindo o reforço da capacidade de salvamento e medidas contra “os criminosos que exploram os mais vulnerávei­s”.

 ?? DARRIN ZAMMIT LUPI/REUTERS ?? O navio-patrulha italiano Bruno Gregoretti chegou ontem a Malta com 24 corpos resgatados de entre as centenas que deverão ter perecido no domingo
DARRIN ZAMMIT LUPI/REUTERS O navio-patrulha italiano Bruno Gregoretti chegou ontem a Malta com 24 corpos resgatados de entre as centenas que deverão ter perecido no domingo
 ?? REUTERS ?? Um navio com 83 imigrantes naufragou, ontem, na ilha grega de Rodes. Morreram três pessoas
REUTERS Um navio com 83 imigrantes naufragou, ontem, na ilha grega de Rodes. Morreram três pessoas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal