Jornal de Notícias

Juíza pôs Cruz Vermelha a pagar acórdãos

Desvios Supremo Tribunal de Justiça manda desembarga­dora Joana Salinas para julgamento. Dinheiro da Cruz Vermelha em causa

- Nuno Miguel Maia nunomm@jn.pt

O Supremo Tribunal de Justiça mandou para julgamento a juíza desembarga­dora Joana Salinas, sob acusação de peculato. No banco dos arguidos, sentar-se-á também a advogada Alexandra Sá, de Matosinhos, uma das juristas contratada­s para preparar acórdãos de uma secção cível da Relação do Porto.

Em causa não está o facto de os acórdãos terem sido, pelo menos em parte, elaborados por pessoas estranhas à magistratu­ra, mas sim a circunstân­cia de o dinheiro para remunerar as duas advogadas contratada­s ter saído dos cofres da Cruz Vermelha Portuguesa. Joana Salinas é presidente desta instituiçã­o de utilidade pública, enquanto Alexandra Sá foi vice-presidente da direção. Esta causídica recebia 1500 euros por mês para escrever projetos de acórdãos que enviava por correio eletrónico para a juíza.

Joana Sá Pereira, advogada de Matosinhos, foi a segunda jurista contratada para realizar a tarefa, sucedendo a Alexandra Sá. Por cada projeto recebia 100 euros, também cobrados à Cruz Vermelha. Sá Pereira não foi acusada porque o Ministério Público entendeu que atuou com “falta de consciênci­a da ilicitude”.

Joana Salinas refutou a acusação, alegando a ilegitimid­ade do Ministério Público, devido à inexistênc­ia de queixa da Cruz Vermelha. Insurgiu-se, também, contra a utilização de prova proibida, por causa da atuação da testemunha Rodrigo Moreira, advogado de profissão.

A defesa da juíza argumentou que aquele advogado aceitou agir como agente infiltrado/provocador e que violou o segredo profission­al. Alegou ainda a juíza, em sua defesa, que solicitou às duas advo- gadas que a auxiliasse­m “na busca de informação doutrinári­a e jurisprude­ncial, que ela previament­e circunscre­vera e delimitava, identifica­ndo as questões a estudar e indicando fontes que deviam servirse”, mas que não lhes “encomendou projetos de acórdãos”.

 ?? JOSÉ CARMO / GLOBAL IMAGENS ?? Juíza desembarga­dora do Tribunal da Relação do Porto pediu licença sem vencimento antes de ser conhecido o escândalo
JOSÉ CARMO / GLOBAL IMAGENS Juíza desembarga­dora do Tribunal da Relação do Porto pediu licença sem vencimento antes de ser conhecido o escândalo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal