Reabilitação das ilhas exige apoio do Estado
Porto Câmara traçará plano de regeneração das habitações, estimando um custo de 100 milhões. Fundos europeus são essenciais
As ilhas não são para erradicar. A Câmara do Porto olha para a generalidade dos 957 núcleos habitacionais da cidade como uma “oportunidade” para criar habitação condigna para famílias com baixos recursos económicos e que desejem viver em espaços onde o sentido de comunidade perdura. No entanto, a fatura é elevada. O presidente Rui Moreira estima que serão necessários 100 milhões de euros para requalificar as ilhas. O programa será traçado, mas, avisa o vereador da Habitação, Manuel Pizarro, não será possível concretizá-lo “sem apoio estatal” e europeu.
O primeiro passo será municipal. Não só assumirá a “especial responsabilidade” de preparar o plano de regeneração das ilhas, envolvendo a comunidade científica, os moradores e os proprietários, como dará o exemplo com as obras na ilha da Belavista. Hoje será lançado o concurso público para a recuperação daquele núcleo no Bonfim, que é um dos poucos que pertencem à Câmara. O investimento rondará os 800 mil euros e a obra prolongar-se-á por ano e meio. Manuel Pizarro garantiu que não será uma aposta isolada. O Município propõe-se a recuperar todas as ilhas que lhe restam.
“A reabilitação da Ilha da Belavista mostrará aos proprietários que é possível recuperar as casas com pouco dinheiro. Cada habitação requalificada na Belavista custará 6500 euros”, assegurou Rui Moreira, após a apresentação do levantamento e caracterização sobre as ilhas do Porto, coordenado por Isabel Breda Vázquez e Paulo Conceição (investigadores da Faculdade de Engenharia do Porto) e encomendado pela Autarquia. O Rivoli encheu para conhecer o diagnóstico à realidade das ilhas.
“Estamos perante um contexto de envelhecimento e de vulnerabilidade social”
Isabel Breda Vázquez
Investigadora da FEUP “As soluções para as ilhas, pela sua dimensão, devem mobilizar recursos nacionais”
Paulo Conceição
Investigador da FEUP
Oportunidade de repovoamento A convicção de Rui Moreira, também partilhada pelo socialista Manuel Pizarro, é de que as “ilhas do Porto são uma oportunidade” de repovoamento e “não um mal a erradicar” da cidade. O estudo, divulgado ontem e cujas principais conclusões têm sido publicadas pelo JN desde sábado, revela que 60% das pessoas estão satisfeitas com a sua residência nas ilhas, apesar das debilidades que encerram.
Essa satisfação não pode ser ignorada, entende Rui Moreira. “Este trabalho será o ponto de partida para organizar um programa de re- generação das ilhas” que reconhecerá “o direito à cidade” aos moradores. “Mas não pode ser um trabalho solitário da Autarquia”, alerta. A mobilização dos proprietários é decisiva, assim como a colaboração do Governo e a disponibilização de fundos comunitários. “É um programa muito exigente que não é passível de ser realizado sem apoio estatal e sem apoio de fundos comunitários. Precisamos das ilhas para dar uma casa adequada às pessoas”, explica Pizarro, lembrando que chegam cada vez mais pedidos de habitação à Autarquia. A capacidade de resposta é limitada.
Nem todas as ilhas reunirão condições para se renovarem. A solução passará pela demolição.