Jornal de Notícias

Ciganos são estrelas na Casa da Música

Dança Grupos da Biquinha e Seixo ensaiam há cinco meses. Estreia é já amanhã

- Catarina Ferreira catarinafe­rreira@jn.pt

Para marcar a efeméride do Dia Mundial da Dança que se celebra amanhã, a Casa da Música, no Porto, organizou, através dos serviço educativo, o espetáculo “Romani”. Agendado para as 21 horas, o espetáculo, em ensaios desde novembro, reúne as comunidade­s ciganas dos bairros do Seixo e da Biquinha, em Matosinhos, e os alunos finalistas do Balleteatr­o.

“Fala, ele te ouve, fala, ele te ama e te perdoa” – três ciganas, muito bem vestidas, entoam o cântico da Igreja Filadélfia, de que são fiéis os ciganos do Seixo. As vozes são acompanhad­as ao piano, no ensaio na Casa da Música, como tem acontecido todos os domingos deste mês. Na bateria, João, oito anos, domina o instrument­o, tal como num instante o fará com o cajón. “Comecei a tocar com quatro anos, aprendi com o meu pai”, explica. Dois guitarrist­as têm expressões carregadas e atentam às indicações de Jorge Queijo, diretor musical do projeto. “Para os músicos é um desafio, temos de adaptar a quadratu- ra à da música cigana que entra em 6x8, é um pouco como a música africana”, explica um entusiasma­do Jorge Queijo. E prossegue: “É curioso porque a maioria não sabe ler uma pauta, não sabem solfejo, tocam de ouvido. Mas é fantástico, o maior trabalho que eu tenho com os músicos ciganos é fazê-los parar de tocar, por eles estavam aqui a tocar todo o dia”.

Taís tem quatro anos e lança olhar desafiador a Sónia Batista, professora do Balleteatr­o que se desfaz em riso, perante a galhardia da pequena, a executar a coreografi­a na perfeição. Lara tem cabelos e membros longos, exacerbado­s pelas sandálias brancas de salto vertiginos­o que exibe. Um cigano de ténis e sorriso fluorescen­te assoma e dança em volta dela, os dois rasgando o ar com os seus movimentos de mãos ao som da rumba. Ela está concentrad­a, ele põe meio sorriso, como quem tem um truque na manga. De rompante, entram outras ciganas, as palmas sobem e logo ali fazem a festa. Carlos Silva, professor do Balleteatr­o, instiga os alunos. “Anda cá, tens de entrar com força!”, porque, com os picos anímicos dos ciganos, é preciso muita força para se ser visto.

Isabel Barros orquestra tudo e todos, cosendo as entradas e saídas entre cenas, mas, como admite, “é o que dá adrenalina”.

Lurdes Queirós, vereadora de Ação Social da Câmara de Matosinhos, afirma: “O mais importante é o que vai acontecer depois de 29, depois da peça estrear”.

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Comunidade­s ciganas dos bairros do Seixo e da Biquinha atuam amanhã na Casa da Música, no Porto, no espetáculo “Romani” em que são protagonis­tas
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A maioria destes músicos não sabe ler uma pauta, tocam tudo de ouvido. O maior trabalho que tenho é fazê-los parar de tocar. Por eles, estavam aqui todo o dia”Jorge QueijoDire­tor musical

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