Ciganos são estrelas na Casa da Música
Dança Grupos da Biquinha e Seixo ensaiam há cinco meses. Estreia é já amanhã
Para marcar a efeméride do Dia Mundial da Dança que se celebra amanhã, a Casa da Música, no Porto, organizou, através dos serviço educativo, o espetáculo “Romani”. Agendado para as 21 horas, o espetáculo, em ensaios desde novembro, reúne as comunidades ciganas dos bairros do Seixo e da Biquinha, em Matosinhos, e os alunos finalistas do Balleteatro.
“Fala, ele te ouve, fala, ele te ama e te perdoa” – três ciganas, muito bem vestidas, entoam o cântico da Igreja Filadélfia, de que são fiéis os ciganos do Seixo. As vozes são acompanhadas ao piano, no ensaio na Casa da Música, como tem acontecido todos os domingos deste mês. Na bateria, João, oito anos, domina o instrumento, tal como num instante o fará com o cajón. “Comecei a tocar com quatro anos, aprendi com o meu pai”, explica. Dois guitarristas têm expressões carregadas e atentam às indicações de Jorge Queijo, diretor musical do projeto. “Para os músicos é um desafio, temos de adaptar a quadratu- ra à da música cigana que entra em 6x8, é um pouco como a música africana”, explica um entusiasmado Jorge Queijo. E prossegue: “É curioso porque a maioria não sabe ler uma pauta, não sabem solfejo, tocam de ouvido. Mas é fantástico, o maior trabalho que eu tenho com os músicos ciganos é fazê-los parar de tocar, por eles estavam aqui a tocar todo o dia”.
Taís tem quatro anos e lança olhar desafiador a Sónia Batista, professora do Balleteatro que se desfaz em riso, perante a galhardia da pequena, a executar a coreografia na perfeição. Lara tem cabelos e membros longos, exacerbados pelas sandálias brancas de salto vertiginoso que exibe. Um cigano de ténis e sorriso fluorescente assoma e dança em volta dela, os dois rasgando o ar com os seus movimentos de mãos ao som da rumba. Ela está concentrada, ele põe meio sorriso, como quem tem um truque na manga. De rompante, entram outras ciganas, as palmas sobem e logo ali fazem a festa. Carlos Silva, professor do Balleteatro, instiga os alunos. “Anda cá, tens de entrar com força!”, porque, com os picos anímicos dos ciganos, é preciso muita força para se ser visto.
Isabel Barros orquestra tudo e todos, cosendo as entradas e saídas entre cenas, mas, como admite, “é o que dá adrenalina”.
Lurdes Queirós, vereadora de Ação Social da Câmara de Matosinhos, afirma: “O mais importante é o que vai acontecer depois de 29, depois da peça estrear”.