‘Pior do que idade é o contexto social destas gravidezes’
CONSEQUÊNCIA As gravidezes muito precoces vão acontecendo com alguma frequência, mas são sempre casos que chocam, sobretudo nos dias que correm e nos países mais desenvolvidos. Em termos de saúde, a ideia de que a gravidez na adolescência traz riscos acrescidos tem sido desmistificada nos últimos anos e não há nada que o comprove, explica Nuno Montenegro. “A partir do momento em que a mulher é fértil, os órgãos reprodutores estão prontos para acolher o feto”, explica o diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de S. João, no Porto.
Para Nuno Montenegro, “pior do que a idade é o contexto social em que estas gravidezes ocorrem” e essas circunstâncias é que normalmente determinam os riscos da jovem mãe e da criança que vai nascer. Pelo serviço que dirige passam muitas grávidas adolescentes e, algumas delas, muito jovens. Recentemente, recorda, tivemos uma jovem de 13 anos que engravidou depois de ter sido violada pelo pai. “Infelizmente, vão aparecendo alguns casos” e “é muito complicado saber que não podemos fazer nada”, refere o especialista.
Porém, nem todas as culturas encaram a gravidez precoce como um problema. Para os indivíduos de etnia cigana, por exemplo, é normal uma menina de 13 anos casar e engravidar. “Há algum tempo tivemos uma jovem de 14 anos a ligar para o Serviço de Medicina de Reprodução a perguntar quando poderia ser atendida porque não conseguia engravidar há um ano”, contou Nuno Montenegro.
Para Maria Filomena Gaspar, psicóloga e professora da Universidade de Coimbra, os bebés de mães tão jovens em contexto de risco podem desenvolver atrasos no desenvolvimento. Do ponto de vista do impacto emocional, levantam-se também inúmeros problemas: “Como vão estas meninas conciliar o papel de mãe com o de adolescentes? Vão ser vistas como diferentes pelos seus pares, vão ser estigmatizadas e dificilmente terão sucesso escolar”, adivinha a também terapeuta familiar.
Soluções? “Temos de proteger estas meninas, fazer com que tenham uma adolescência o mais normal possível e ponderar, com elas, a hipótese de os bebés terem outra trajetória e serem dados para adoção”, defende. Uma decisão que terá sempre se ser bem acompanhada, já que, como nota Maria Filomena Gaspar, o cérebro de um adolescente não tem capacidade para perceber as implicações futuras de uma decisão no presente.