Portas corta asas a Cristas no CDS-PP
Sucessão Vice-presidente centrista suaviza discurso sobre a disponibilidade para disputar a liderança
Bastou Assunção Cristas assumir publicamente o que em surdina se especulava há muito tempo – que está disponível para disputar a liderança do CDS-PP – para que Paulo Portas relativizasse a importância da ministra da Agricultura e do Mar e lhe cortasse as asas da ambição. “O CDS tem várias mulheres e vários homens que são políticos de primeira categoria e que terão certamente um grande papel no futuro”, desvalorizou, ontem, em Gaia, o atual líder do partido.
Em entrevista ao jornal digital “Observador”, no início desta semana, Cristas afirmou estar ao serviço do partido “para o que for necessário”, incluindo a presidência, embora o assunto não a “ocupe nem preocupe”. Se a questão se colocar, esclareceu, será, “antes de mais, uma questão para o próprio CDS e para os militantes do CDS, de quem é que acham relevante” para assumir a liderança”.
A resposta evasiva da vice-presidente do partido não foi suficiente para não alarmar Paulo Portas, nem o resto dos centristas, que não disfarçaram a surpresa na reação à declaração. Por isso, ontem, à margem da assinatura de um protoco- lo sobre a prevenção dos incêndios florestais, a governante decidiu suavizar a posição. “Felizmente, o CDS está muito bem entregue e espero que por muito e bom tempo”, sublinhou, assegurando que a questão da liderança “não está em cima da mesa”.
Tarde de mais. Paulo Portas sentiu necessidade de reagir. “Lembra-se do tempo em que se dizia que o CDS era um partido de um homem só?”, perguntou aos jornalistas. “Isso nunca foi verdade. Mas se algum dia pareceu, estamos felizmente muito longe disso”.
Longe de 2007, quando voltou ao partido. Desde então, e apesar de vencer sempre os congressos por larga margem, a sucessão, ao contrário do que diz Cristas, nunca deixou de estar na mesa. Nuno Melo, aplaudido com fulgor no último congresso; João Almeida, considerado um dos prediletos do líder; ou Pires de Lima, mesmo antes de assumir a pasta da Economia, são nomes de que se fala sempre.
Há um ano, quando Portas foi reeleito com 86% dos votos, o semanário “Expresso” publicou uma sondagem em que metade dos portugueses (52%) considerava que a sucessão penalizaria o partido. O partido ainda parece achar o mesmo.