Crianças ciganas aprendem a gostar da escola mais cedo
as crianças de etnia cigana que vivem nos três acampamento de Ervideiros, em Aveiro, têm o primeiro contacto com a escola no Pré-escolar. Um facto raro, que os especialistas gostariam que se estendesse ao resto das comunidades do país. A educação é vista como um dos pilares da integração e, quanto mais cedo, melhor.
Na escola da Quinta do Simão, onde as crianças de Ervideiros aprendem a ler e a escrever, apenas uma das 41 que frequentam o jardim de infância e o Prmeiro Ciclo não é cigana. A concentração não é uma prática consensual, mas aqui os alunos gostam da escola, não há abandono escolar e o absen- tismo é baixo. Quando os filhos faltam, os pais vão explicar os motivos.
São vitórias que fazem com que o esforço de integração compense. “Queremos que valorizem a escola, que tenham um emprego quando crescerem, para se descolarem do exemplo dos pais, que vivem do Rendimento Social de Inserção”, conta a professora Fátima Santos, que não tem mãos a medir com os alunos. Com esforço, aparecem vitórias. Aos oito anos, Samuel quer ser mecânico e Luciana anseia por trabalhar num supermercado.
Pela frente, professores e alunos têm muito trabalho. Na Quinta do Simão, “os meninos chegam com muitas dificuldades de aprendizagem e nem têm o Português como língua materna. Queixam-se de que a escola dá trabalho. Muitas vezes, temos de os reter no mesmo ano, porque não conseguimos dar toda a matéria. Precisamos de mais professores e auxiliares”, explica.
Acompanhamento sistemático
Este trabalho de integração resulta do esforço das escolas e do EntreSendas, um projeto da Cáritas Diocesana. A coordenadora Andreia Andrade conhece bem as 162 pessoas (das quais 56 alunos) de etnia cigana: baixos níveis académicos, casamentos precoces, dependência de subsídios, más habitações e alcoolismo.
“Fazemos educação parental, acompanhamento, oficinas e outras atividades”, explica Andreia, que tem resultados positivos. “O abandono escolar baixou 50%”.
O retrato de Andreia não é muito diferente do do resto do país, feito, anteontem, em Ílhavo, pela investigadora Manuela Mendes, durante o seminário “A etnia cigana na diversidade das etnias” (ao lado).
Oportunidades de emprego
Foi neste encontro que o mediador do município de Beja, Prudêncio Canhoto, e a dinamizadora de Espinho, Guiomar Sousa, alertaram para a necessidade de se criar “oportunidades de trabalho, apoio ao emprego ou emprego protegido” para a sua minoria, que tem sido “discriminada”. “Também há ciganos bons, mas não lhes dão emprego e assim não há verdadeira integração”, disse Prudêncio.