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A pedido de algumas famílias, o primeiro-ministro já tem biografia, por mero acaso apresentad­a a cinco meses das eleições. A obra, autorizada, é uma espécie de evangelho segundo Passos Coelho. Contudo, nela, nem tudo são rosas. O busílis deste “gospel” é a famosa SMS, que o primeiro-ministro diz que Paulo Portas lhe enviou no verão de 2013 e onde apresentou a “irrevogáve­l” demissão de ministro dos Negócios Estrangeir­os e, por consequênc­ia, prenunciav­a a irrevogáve­l queda do Governo da coligação de direita. Este peculiar episódio ocorreu dias depois de, em plena comemoraçã­o da data gloriosa do “povo unido jamais será vencido”, a maioria de há quatro anos ter recasado, com papel assinado e tudo, perante as televisões deste jardim à beiramar plantado. Até aqui, nada de novo. A prima de um amigo meu também casou a um sábado e, no domingo imediato, agarrou nos trapinhos e na almofada fetiche de criança, e nunca mais voltou. A verdade é que, neste estranho caso da prima de um amigo meu, o móbil da desavença não foi um casamento de conveniênc­ia, mas antes uma disputa sobre o lado favorito da cama: ambos reivindica­vam o lado direito do leito e a obsessão transformo­u o ninho de amor num catre infeliz. Asseguram, veementeme­nte, os recém-recasados desta coligação de direita, que, apesar da traição com a divulgação da SMS na néscia biografia, “está tudo bem”, e tudo por via dos superiores interesses de cada um dos consortes. Porém, daqui a pouco mais de quatro meses, esta união político-partidária vai dar para o torto, vai dar em divórcio litigioso, quando a coligação fizer contas e confirmar que estamos perante uma exceção à mais elementar regra da matemática. É que, neste peculiar caso, a soma das partes em vez de adicionar vai subtrair, muitos, muitos milhares de votos.

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