Jornal de Notícias

97,83% dos docentes que votaram no referendo da Fenprof disseram “não” à municipali­zação Leonor Paiva Watson leonorpaiv­a@jn.pt Educação chumba Nuno Crato Balanço

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O ano letivo cujas aulas acabam hoje foi, no mínimo, atribulado. Diretores e dirigentes escolares, associaçõe­s de pais, sindicalis­tas e líderes de associaçõe­s de professore­s não são tão meigos. Numa avaliação ao Ministério da Educação e ao ministro Nuno Crato, a média não chega a positiva. Afinal, este foi o ano que começou com um atraso colossal na colocação de professore­s, só totalmente resolvido quase no final do primeiro período (novembro); e com a queda de um secretário de Estado, João Grancho.

“Todos os anos, temos problemas no arranque. Mas o início deste foi muito pior. A colocação dos professore­s nas escolas TEIP e com Contrato de Autonomia (307) só ficou resolvida quase no final do primeiro período, com um prejuízo imenso para os alunos, que depois viram as aulas em falta compensada­s em sobrecarga horária”, começa Manuel Pereira, dos Dirigentes Escolares.

Recentemen­te, Nuno Crato veio dizer que o preço político que a tutela pagou por este atraso foi “elevadíssi­mo”. Referiu, por exemplo, a demissão do secretário­geral da Educação, Agostinho Pereira. De facto, este foi o primeiro a cair na sequência do “erro”. Coincident­emente, o início do ano foi também marcado por outra baixa: João Grancho, secretário de Estado do Ensino Básico e da Educação. Os motivos terão sido “estritamen­te pessoais”. Porém, ocorreu na mesma altura em que foi divulgada uma notícia de que teria feito plágio num trabalho universitá­rio; e ao mesmo tempo em que se pedia a cabeça do secretário de Estado João Casanova de Almeida, por causa dos atrasos nas colocações. Foi Grancho quem tombou.

Para o próximo ano letivo fica a promessa de que o “erro” não voltará a repetir-se. Ao JN, o Ministério respondeu o seguinte: “A nossa expectativ­a é que as listas relativas à contrataçã­o inicial sejam divulgadas no final de agosto e que de seguida se inicie a Bolsa de Contrataçã­o de Escola [que esteve na origem dos atrasos nas colocações], com seleção feita diretament­e pelos diretores das escolas e agrupament­os (com base em listas graduadas) (...). Portanto, há uma antecipaçã­o de prazos”.

“Era bom que virasse moda”, manifesta Filinto Ramos Lima, da Associação de Diretores.

Desde a PACC à Municipali­zação

Mas não foi só o atraso nas colocações que determinou o ano letivo. Este foi, por exemplo, o primeiro ano da aplicação na plenitude da Prova de Avaliação de Conhecimen­tos e Capacidade­s (PACC).

Mário Nogueira, da Fenprof, assevera que “este foi o ano em que Nuno Crato expulsou milhares de professore­s das listas de contrataçã­o por não terem tido aprovação na PACC”.

Israel Paulo, da Associação dos Professore­s Contratado­s, lembra, “pelo lado positivo”, que o ministério também “impôs a norma-travão que impede que os docentes sejam contratado­s eternament­e”, mas recorda que “se um professore tiver tido o azar de não ter os últimos cinco contratos sucessivos, mas tiver mais anos de carreira do que outros que tiveram, não vincula”.

Uma outra palavra não pode dissociar-se do ano 2014/2015: municipali­zação. A transferên­cia de competênci­as da Educação para as autarquias transtorno­u a classe. Diretores e sindicatos garantem que “as escolas não foram ouvidas”. Num referendo que a Fenprof lançou aos professore­s no início deste mês, dos 53 696 que votaram, 52 533 disseram “não” à municipali­zação, ou seja, 97,83%.

De resto, ainda não saiu o Despacho Organizati­vo do Ano Letivo.

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