Óscar para a vacina do HPV
Proposta Vencedor do voto popular nos Prémios Europeus da Tecnologia e Inovação, Ian Frazer defende a vacinação dos rapazes
Os investigadores que desenvolveram a vacina contra o HPV (papilomavírus humano) foram os grandes vencedores do Prémio de Popularidade dos “European Inventor Award”, os “óscares” europeus para a tecnologia e inovação, anunciados ontem, em Paris.
A importância da vacina contra o HPV, que já protegeu 125 milhões de raparigas do cancro do colo do útero, associado a esta infeção sexualmente transmissível, já estava mais que provada, com a sua implementação pelo mundo inteiro, incluindo Portugal, desde 2006. Chega agora a confirmação desse facto, com a atribuição do Prémio de Popularidade a Ian Frazer e a Jian Zhou (já falecido) nos “European Inventor Award”.
A dupla australiana e chinesa conseguiu 32% dos mais de 47 mil votos registados online, numa categoria decidida pelo público em geral e em que participam os quinze inventores e/ou equipas. Esta vitória é representativa, bem como o é o universo de votos: os vencedores do ano passado, os japoneses responsáveis pela invenção do QR Code, conseguiram reunir 29% da preferência dos votantes, numa eleição em que participaram metade dos utilizadores deste ano.
Ian Frazer fez-se acompanhar na cerimónia pela viúva de Zhou, Xiao Yi Sun, que ajudou no processo de criação desta vacina e que protagonizou o momento mais emocionado da cerimónia. “Este prémio trazme emoções muito fortes. Por um lado, queria que o meu marido estivesse aqui para ver o seu trabalho reconhecido. Ao mesmo tempo, estou muito orgulhosa do impacto que o legado dele deixou. Esperamos que o seu trabalho continue a inspirar as próximas gerações”.
Em entrevista ao JN, Ian Frazer garantiu que a vacina é “bastante segura”. Reagindo a notícias no Reino Unido dando conta de comO plicações graves da vacina, o investigador garantiu não haver qualquer prova nesse sentido.
“Está a acontecer no Reino Unido a mesma coisa que aconteceu quando se implementou a vacina contra o sarampo, que as pessoas acreditavam que causava autismo. Também houve pânico quando introduziram a vacina contra a Hepatite, com muitos a dizerem que causava esclerose múltipla. A realidade é que já vacinamos mais de 125 milhões de pessoas... se houvesse algum tipo de complicação, já o saberíamos”, disse Ian Frazer.
cientista vai mais longe e propõe mesmo que os rapazes sejam vacinados, por também poderem contrair cancro resultantes do vírus e infetar as raparigas. Além disso, “nos países em desenvolvimento as pessoas suspeitam sempre de medicamentos administrados apenas a um grupo específico da população. Neste caso, se tentamos administrar a vacina só a raparigas a população fica preocupada e pensa que estamos a tentar esterilizar as mulheres. Uma vacina administrada a toda a gente seria mais socialmente aceitável”.
Os óscares da inovação premiaram ainda os japoneses Sumio Iijima, Akira Koshio e Masako Yudasaka, responsáveis pela descoberta dos nanotubos de carbono, utilizados na biomedicina ou na engenharia computacional. O Prémio de Carreira foi para o suíço Andreas Manz, “pai” do conceito de “laboratório de bolso”, como o aparelha com que os diabéticos podem analisar níveis de glicose em casa.