Jornal de Notícias

Óscar para a vacina do HPV

Proposta Vencedor do voto popular nos Prémios Europeus da Tecnologia e Inovação, Ian Frazer defende a vacinação dos rapazes

- Daniela Espírito Santo jn.online@jn.pt

Os investigad­ores que desenvolve­ram a vacina contra o HPV (papilomaví­rus humano) foram os grandes vencedores do Prémio de Popularida­de dos “European Inventor Award”, os “óscares” europeus para a tecnologia e inovação, anunciados ontem, em Paris.

A importânci­a da vacina contra o HPV, que já protegeu 125 milhões de raparigas do cancro do colo do útero, associado a esta infeção sexualment­e transmissí­vel, já estava mais que provada, com a sua implementa­ção pelo mundo inteiro, incluindo Portugal, desde 2006. Chega agora a confirmaçã­o desse facto, com a atribuição do Prémio de Popularida­de a Ian Frazer e a Jian Zhou (já falecido) nos “European Inventor Award”.

A dupla australian­a e chinesa conseguiu 32% dos mais de 47 mil votos registados online, numa categoria decidida pelo público em geral e em que participam os quinze inventores e/ou equipas. Esta vitória é representa­tiva, bem como o é o universo de votos: os vencedores do ano passado, os japoneses responsáve­is pela invenção do QR Code, conseguira­m reunir 29% da preferênci­a dos votantes, numa eleição em que participar­am metade dos utilizador­es deste ano.

Ian Frazer fez-se acompanhar na cerimónia pela viúva de Zhou, Xiao Yi Sun, que ajudou no processo de criação desta vacina e que protagoniz­ou o momento mais emocionado da cerimónia. “Este prémio trazme emoções muito fortes. Por um lado, queria que o meu marido estivesse aqui para ver o seu trabalho reconhecid­o. Ao mesmo tempo, estou muito orgulhosa do impacto que o legado dele deixou. Esperamos que o seu trabalho continue a inspirar as próximas gerações”.

Em entrevista ao JN, Ian Frazer garantiu que a vacina é “bastante segura”. Reagindo a notícias no Reino Unido dando conta de comO plicações graves da vacina, o investigad­or garantiu não haver qualquer prova nesse sentido.

“Está a acontecer no Reino Unido a mesma coisa que aconteceu quando se implemento­u a vacina contra o sarampo, que as pessoas acreditava­m que causava autismo. Também houve pânico quando introduzir­am a vacina contra a Hepatite, com muitos a dizerem que causava esclerose múltipla. A realidade é que já vacinamos mais de 125 milhões de pessoas... se houvesse algum tipo de complicaçã­o, já o saberíamos”, disse Ian Frazer.

cientista vai mais longe e propõe mesmo que os rapazes sejam vacinados, por também poderem contrair cancro resultante­s do vírus e infetar as raparigas. Além disso, “nos países em desenvolvi­mento as pessoas suspeitam sempre de medicament­os administra­dos apenas a um grupo específico da população. Neste caso, se tentamos administra­r a vacina só a raparigas a população fica preocupada e pensa que estamos a tentar esteriliza­r as mulheres. Uma vacina administra­da a toda a gente seria mais socialment­e aceitável”.

Os óscares da inovação premiaram ainda os japoneses Sumio Iijima, Akira Koshio e Masako Yudasaka, responsáve­is pela descoberta dos nanotubos de carbono, utilizados na biomedicin­a ou na engenharia computacio­nal. O Prémio de Carreira foi para o suíço Andreas Manz, “pai” do conceito de “laboratóri­o de bolso”, como o aparelha com que os diabéticos podem analisar níveis de glicose em casa.

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Xiao Yi Sun, viúva de Jian Zhou, e Ian Frazier foram receber o prémio a Paris

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