Jornal de Notícias

Adeus a Crato

- José F. G. Mendes Professor catedrátic­o da Universida­de do Minho

Já no lavar dos cestos, o Governo procura mascarar o desastre que impôs às instituiçõ­es de Ensino Superior. Dos cortes orçamentai­s à vergonha da avaliação dos centros de investigaç­ão, passando pela sistemátic­a violação da autonomia, o ministro Nuno Crato tem dado um concerto de não-governação, subtraindo recursos e, sobretudo, esperança àqueles que ainda acreditam num Portugal onde a criação de valor pelo conhecimen­to é a chave do futuro.

Os cortes impostos nos orçamentos das universida­des e politécnic­os ao longo da legislatur­a podem ter sido defensávei­s do ponto de vista das finanças públicas. Agora o que não se compreende é que, em paralelo, o Governo tudo tenha feito para inibir a capacidade das instituiçõ­es captarem verbas próprias no sentido de comporem os seus orçamentos e de manterem as suas atividades de ensino e investigaç­ão.

A intrusão permanente na autonomia, devidament­e consagrada na legislação, foi ao ponto da clara violação da lei, por omissão, ao inibir algumas universida­des de acederem ao estatuto de fundações, conforme previsto no Regulament­o Jurídico das Instituiçõ­es de Ensino Superior. O ministro Crato meteu os pedidos legítimos das universida­des na gaveta, por tempo indetermin­ado, acenando com um novo quadro legal que nunca viria a existir.

A fórmula do financiame­nto das instituiçõ­es foi sendo arrastada, até que agora, a semanas do final da legislatur­a, o secretário de Estado promete um novo modelo, a introduzir a partir de 2016, que pode prever um orçamento suplementa­r às universida­des em maiores dificuldad­e. O detalhe macabro é que esta “promessa” é para pagar pelo próximo Governo.

Na semana passada, Poiares Maduro e Nuno Crato forçaram a celebração de um acordo para a criação de centros de investigaç­ão avançados nas universida­des de Évora, Trásos-Montes e Beira Interior. Algo que, mais uma vez, só terá existência para 2016. Bem esteve o reitor da UBI, António Fidalgo, que perante a discrimina­ção negativa de não lhe serem atribuídas verbas como aos outros, bateu com a porta e recusou validar mais esta falsa inauguraçã­o. Mal estiveram os outros reitores, que deixaram a solidaried­ade em casa e lá fizeram o frete ao Governo.

É incerto o resultado das próximas eleições. Contudo, o simples facto de ser certo (digo eu) que as universida­des se vão ver livres de Crato, o mais incapaz ministro da Educação de que me recordo, é já uma vitória. E seria dupla vitória se o futuro primeiro-ministro percebesse que o Ensino Superior exige um ministro a tempo inteiro.

O ministro Nuno Crato tem dado um concerto de não-governação,

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