Artistas do metal inovam tanto na Terra como no Espaço
Adira Empresa portuense fabrica e comercializa máquinas ferramentas para mais de 60 países. NASA, Airbus, Boeing, Bosch ou Siemens são alguns dos clientes. Novo plano de expansão prevê aposta em mercados emergentes
De um simples portão aos componentes de um avião. Há uma infinidade de produtos a sair das “máquinas ferramentas” (termo técnico do produto) feitas pela Adira. Esta empresa do Porto desenvolve, com tecnologia própria, equipamentos para a indústria de metalomecânica. O mercado nacional serviu de esteio para uma longa estratégia de internacionalização. Presente em mais de 60 países, tem agora um plano de expansão que prevê novos canais de distribuição e a reformulação do processo produtivo.
Fundada em 1956, a Adira é hoje uma referência no fabrico de máquinas de dobrar e cortar chapa bem como de corte de chapa a laser. O reconhecimento é mundial e basta olhar para alguns clientes: Bombardier, Bosch, Siemens, Motorola, Arcelor Mittal, Airbus ou Boeing. “Fazemos máquinas transversais para setores como aeroespacial, automóvel, naval, ferroviário ou construção”, explica o presidente António Cardoso Pinto.
Este negócio leva máquinas ferramentas a mais de 60 países dos cinco continentes, sendo que a exportação tem um peso de 80%. Aos primeiros sinais da crise, a empresa foi rápida a reagir e deu início em 2007 a uma estratégia de expansão fora da Europa e EUA, mercados maduros que indiciavam uma quebra na procura de bens de equipamento. “Decidimos apostar em economias emergentes com maior potencial de crescimento. Em sete anos, o peso nas vendas nos novos destinos subiu de 25% para mais de 60%”.
Para competir nos mercados emergentes a empresa repensou o produto, investindo na estandardização e modularização. “Numa filosofia idêntica à do setor automóvel, onde a mesma plataforma pode ser otimizada para produzir várias máquinas, conseguimos baixar custos de produção e oferecer soluções eficazes, económicas e sustentáveis”. Com fábricas no Porto e em Vila Nova de Gaia, está ainda em curso a remodelação da segunda unidade que irá albergar toda a sua atividade. “As obras do novo centro fabril arrancaram há 18 meses e já temos setores de produção a funcionar”, afirma António Cardoso Pinto.
A médio prazo, a deslocalização de parte da produção para outros continentes é uma meta. Para reduzir custos e não só. “Em vez de importarmos chapa do Brasil ou Índia para fazer uma máquina simples, vamos deslocalizar a produção para a América do Sul e a Ásia. Além disso, pretendemos captar lá clientes para as máquinas sofisticadas produzidas em Portugal, o que permitirá gerir uma rede de unidades industriais e ter uma central de compras global”.
Necessidades dos clientes obrigam a Adira a investigar soluções de engenharia avançadas, muitas com patente própria. Uma delas é a fabricação aditiva (“Additive Manufacturing”), inspirada na impressão 3D para fazer peças metálicas de grande porte. “Com a nossa experiência na construção de máquinas a laser para processar chapa, esta é uma área com muitas sinergias”, conta Tiago Brito e Faro, diretor de operações. A inovação permite fabricar uma máquina ou componente, não por acumulação ou montagem de peças, mas a partir de um laser que injeta grãos de pó microscópicos, camada a camada, que se vão solidificando para construir a peça. “Esperamos lançar o produto no próximo ano”, salienta.
Em paralelo à criação de um protótipo de grandes dimensões, a empresa pretende ter um consórcio na área da fabricação aditiva. “Unindo competências, queremos incluir um produtor de pó, um fornecedor de gás e clientes que precisem de peças metálicas de grandes dimensões. Trabalhando juntos será mais fácil”, frisa António Cardoso Pinto.
Outra patente desenvolvida é a “tecnologia desmaterializada”, usada na nova geração de máquinas de quinagem. “Em vez de usarmos peças de chapa inteiras que podem pesar até 30 toneladas, evitamos a complicação logística e fazemos peças a partir de perfis, colocando material
Este negócio leva máquinas ferramentas a mais de 60 países dos cinco continentes, sendo 80% enviadas para o estrangeiro
apenas onde é necessário”, especifica Tiago Brito e Faro, que acrescenta: “as peças que formam a máquina tornam-se mais fáceis de produzir com menor fração de matéria-prima, de transportar e instalar. E permite uma redução do peso até 40% e de custos até 30%”.
Para dar corpo à inovação constante, a Adira trabalha de perto com várias entidades do sistema científico como Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, universidades de Aveiro e Minho, INEGI, INESC, Instituto Fraunhofer e Massachusetts Institute of Technology, nos EUA. Jogando em antecipação, já pensa em áreas como software, sensorização, automações e eficiência energética, para aprofundar o conceito de máquina inteligente. “Procuramos ir na linha da frente, sem nos atrasarmos, num mercado onde a concorrência é feroz”, diz António Cardoso Pinto.
Com cerca de 140 colaboradores, a empresa prevê um volume de negócios na casa dos 20 milhões de euros. Crescer e ser uma referência internacional é um desígnio para uma empresa que até já vendeu equipamento à NASA para esta produzir um carro blindado para o ex-presidente dos EUA, George W. Bush. “Os padrões de vida serão mais altos em várias zonas do planeta e acreditamos que vão ser precisas mais máquinas para cortar e dobrar chapa”.