Rei e senhor
Meo Sudoeste: dia 4 Músico angolano junta 42 mil pessoas e levanta histeria no festival que ontem terminou
Gafanhotos, andorinhas, cegonhas, abelhas e demais fauna: podem regressar ao vosso habitat. Esta manhã irá amanhecer um halo de ressaca sobre a Herdade da Casa Branca, pradaria do festival Meo Sudoeste. A relva tombou e é agora uma espécie de cama de erva seca, mas um novo ciclo começa. Os invasores partiram, com eles levaram o seu barulho, as suas casas de acampar e os seus meios de transporte. Partiram rumo a novas paragens, abandonando a lezíria a perder de vista que agora vos torna a pertencer.
Os invasores chegaram de várias partes, de Norte, de Sul, de Este para aqui montar o seu faroeste, onde residiram durante dez dias índios de caras pintadas de azul e branco e cowboys com chapéus de palha.
Simone Rodrigues veio de Sesimbra e hoje, findo o festival, já sente falta do “convívio e das noites”. Ana Leite e João Neves rumaram de Lisboa até ao Alentejo, hoje vão suspirar pelo “ambiente do parque de campismo”. Patrícia Oliveira e Tiago Pereira, do Seixal, sentirão falta “dos brindes, dos óculos, lenços e chapéus”. Diogo Matos, Tiago Soares e Ricardo Dias queimarão os dias que faltam até às Festas da Agonia com a recordação “das belas paisagens dos chuveiros do Sudoeste”. João Marques, de Lisboa, suspira pelas “noites com a namorada na tenda abafada”.
E as noites na herdade da Casa Branca têm muito que contar: não é todos os dias que se conjuga noite S. João e passagem de ano no espaço de umas horas. No concerto de Mundo Segundo lançaram-se balões de S. João aos céus da Herdade da Casa Branca, não se sabe se era uma alusão ao facto de o músico ser o único de Vila Nova de Gaia. Mas a coincidência resultou na perfeição. Uns minutos depois foi projetada uma mega contagem decrescente, anunciando o tempo restante até ao concerto de Anselmo Ralph. O público gritou todo abraçado aos zeros, como se da esperança de um novo ano se tratasse.
O rei angolano e a pequena Pérola
O tom angolano no Festival já tinha começado ao início da noite com a apresentação de Pérola, passos de dança, romance e umas pernas torneadas a fazerem parar os curiosos. Mas o rei estava por chegar. Anselmo Ralph é um pinga- amor e sabe bem que gentileza gera gentileza. Ele trata bem as meninas, os meninos e todo o público. No fim, como se não fosse suficiente, até consegue fazer um encore com uma música de agradecimento chamada... “Muito obrigado”. O seu concerto teve a maior assistência do Sudoeste – 42 000 almas –, os que gostam e os que dizem que não gostam, todos juntos aos pés do fenómeno angolano. O espetáculo não deixa os detalhes por créditos alheios, tudo está sincronizado, coreografado, correto. “Difícil”, “Curtição”, “Não me toca” e claro “A única mulher” para se viver novelas logo ali. Beijos entre casais, abraços “aos fofinhos” e “Domesticado”, onde pergunta aos homens quem se sentem nesse estado.
O concerto de Regula tinha acabado de arrancar, duas músicas tinham passado quando o músico decide sair de palco com um inexplicável “até já, Sudoeste”. O público estupefacto e especulando explicações, atira vários comentários jocosos – “foi se calhar fumar uma broca” . Entram membros do staff para compor a mesa do DJ – alegadamente teria algum problema de som. Passaram dez minutos até que Regula e seus convidados tornassem a entrar. Dez minutos podem ser uma eternidade. Sem explicação alguma, o concerto prossegue. Mas, comida depois de fria não é de se tragar e o respeito entre artistas e público tem de ser uma estrada de dois sentidos. Regula, fazendo jus ao seu álbum “Casca grossa”, não dá espaço para dúvida. Nem nas letras que canta. E há quem não aprecie finezas e erga cartazes como “Aqui há vegetarianas que comem morcela”, alimentando o grotesco.
Elevar o Mundo Segundo
500 metros acima estava o Mundo Segundo. Banda harmoniosa, rimas bem feitas, “foram 20 anos até conseguirmos chegar ao Sudoeste”, mas merecem subir a este cenário. “Brilhantes diamantes” ou “Cicatriz” com a participação de Dino d´Santiago, e temas como “Escola dos anos 90” atiraram os Mundo Segundo para um novo e elevado patamar.