Jornal de Notícias

Rei e senhor

Meo Sudoeste: dia 4 Músico angolano junta 42 mil pessoas e levanta histeria no festival que ontem terminou

- Catarina Ferreira cultura@jn.pt

Gafanhotos, andorinhas, cegonhas, abelhas e demais fauna: podem regressar ao vosso habitat. Esta manhã irá amanhecer um halo de ressaca sobre a Herdade da Casa Branca, pradaria do festival Meo Sudoeste. A relva tombou e é agora uma espécie de cama de erva seca, mas um novo ciclo começa. Os invasores partiram, com eles levaram o seu barulho, as suas casas de acampar e os seus meios de transporte. Partiram rumo a novas paragens, abandonand­o a lezíria a perder de vista que agora vos torna a pertencer.

Os invasores chegaram de várias partes, de Norte, de Sul, de Este para aqui montar o seu faroeste, onde residiram durante dez dias índios de caras pintadas de azul e branco e cowboys com chapéus de palha.

Simone Rodrigues veio de Sesimbra e hoje, findo o festival, já sente falta do “convívio e das noites”. Ana Leite e João Neves rumaram de Lisboa até ao Alentejo, hoje vão suspirar pelo “ambiente do parque de campismo”. Patrícia Oliveira e Tiago Pereira, do Seixal, sentirão falta “dos brindes, dos óculos, lenços e chapéus”. Diogo Matos, Tiago Soares e Ricardo Dias queimarão os dias que faltam até às Festas da Agonia com a recordação “das belas paisagens dos chuveiros do Sudoeste”. João Marques, de Lisboa, suspira pelas “noites com a namorada na tenda abafada”.

E as noites na herdade da Casa Branca têm muito que contar: não é todos os dias que se conjuga noite S. João e passagem de ano no espaço de umas horas. No concerto de Mundo Segundo lançaram-se balões de S. João aos céus da Herdade da Casa Branca, não se sabe se era uma alusão ao facto de o músico ser o único de Vila Nova de Gaia. Mas a coincidênc­ia resultou na perfeição. Uns minutos depois foi projetada uma mega contagem decrescent­e, anunciando o tempo restante até ao concerto de Anselmo Ralph. O público gritou todo abraçado aos zeros, como se da esperança de um novo ano se tratasse.

O rei angolano e a pequena Pérola

O tom angolano no Festival já tinha começado ao início da noite com a apresentaç­ão de Pérola, passos de dança, romance e umas pernas torneadas a fazerem parar os curiosos. Mas o rei estava por chegar. Anselmo Ralph é um pinga- amor e sabe bem que gentileza gera gentileza. Ele trata bem as meninas, os meninos e todo o público. No fim, como se não fosse suficiente, até consegue fazer um encore com uma música de agradecime­nto chamada... “Muito obrigado”. O seu concerto teve a maior assistênci­a do Sudoeste – 42 000 almas –, os que gostam e os que dizem que não gostam, todos juntos aos pés do fenómeno angolano. O espetáculo não deixa os detalhes por créditos alheios, tudo está sincroniza­do, coreografa­do, correto. “Difícil”, “Curtição”, “Não me toca” e claro “A única mulher” para se viver novelas logo ali. Beijos entre casais, abraços “aos fofinhos” e “Domesticad­o”, onde pergunta aos homens quem se sentem nesse estado.

O concerto de Regula tinha acabado de arrancar, duas músicas tinham passado quando o músico decide sair de palco com um inexplicáv­el “até já, Sudoeste”. O público estupefact­o e especuland­o explicaçõe­s, atira vários comentário­s jocosos – “foi se calhar fumar uma broca” . Entram membros do staff para compor a mesa do DJ – alegadamen­te teria algum problema de som. Passaram dez minutos até que Regula e seus convidados tornassem a entrar. Dez minutos podem ser uma eternidade. Sem explicação alguma, o concerto prossegue. Mas, comida depois de fria não é de se tragar e o respeito entre artistas e público tem de ser uma estrada de dois sentidos. Regula, fazendo jus ao seu álbum “Casca grossa”, não dá espaço para dúvida. Nem nas letras que canta. E há quem não aprecie finezas e erga cartazes como “Aqui há vegetarian­as que comem morcela”, alimentand­o o grotesco.

Elevar o Mundo Segundo

500 metros acima estava o Mundo Segundo. Banda harmoniosa, rimas bem feitas, “foram 20 anos até conseguirm­os chegar ao Sudoeste”, mas merecem subir a este cenário. “Brilhantes diamantes” ou “Cicatriz” com a participaç­ão de Dino d´Santiago, e temas como “Escola dos anos 90” atiraram os Mundo Segundo para um novo e elevado patamar.

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 ??  ?? Anselmo Ralph (em cima) trata bem tudo e todos. Pérola entusiasmo­u mais pelo seu visual e o público de Regula parece apreciar uma certa falta da fineza
Anselmo Ralph (em cima) trata bem tudo e todos. Pérola entusiasmo­u mais pelo seu visual e o público de Regula parece apreciar uma certa falta da fineza
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