Encanta Caminha
Ao vivo Fadista cujo próximo concerto em Portugal continental será só em 2016, fez dueto com Carminho
Intacto. Na voz, na alma com que canta e também na inteligência do discurso, fluido e bem-humorado, que o manteve conectado com o público da primeira à última canção. Esta última partilhada com Carminho, que o antecedeu no espetáculo de anteontem à noite em Caminha. Carlos do Carmo pode até acusar uma ligeira fragilidade física (fica-lhe tão bem), mas o fado que apresenta em placo é o de sempre (completou já 50 anos de carreira, mas disse em Caminha que são cinco). Senão, pergunte-se às cerca de duas mil pessoas que sábado à noite encheram o pavilhão municipal da vila. Na assistência havia gente da Galiza, para satisfação do artista, que a cumprimentou e pôs a cantar “Lisboa menina e moça”. O resto, foi puro fado e uma interação cheia de graça e aplausos, sem momentos mortos.
“Hoje de manhã, acordei aqui em Caminha. Vim de véspera, porque na minha idade já tem de ser assim, e desfrutei de uma aguarela ao pequeno-almoço. O rio e do outro lado Espanha. Disse à minha mulher: As pessoas exigem de mais quando têm tudo. Realmente, isto é ter tudo”, proclamou, acompanhando as palavras com gestos serenos, depois de cantar a “Gaivota”.
Já o público minhoto que o recebera três fados antes em êxtase, como quem recebe uma bênção, se lhe rendera. Foi assim ao longo de 13 canções (composições de Alexandre O’Neill, Saramago, Maria do Rosário Pedreira, António Vitorino de Almeida…). Cantou a “Canoa” (chamou-lhe “Canoua” aludindo ao sotaque do Minho) e fechou “com chave de ouro” (ele próprio o disse) num dueto com Carminho. A fadista que atuara antes, individualmente, sem causar exaltação do público, comentara “a honra por cantar” com Carlos do Carmo.