Fogo descontrolado no Minho
Região vive em sobressalto desde sábado Chamas às portas da universidade em Braga
Incêndios com vários quilómetros de extensão, centenas de bombeiros e meios de combate terrestre e aéreo mobilizados, população alarmada com o fogo a chegar a dezenas de casas e o céu coberto de fumo negro de Melgaço até Viana do Castelo. O Minho, sobretudo o Alto Minho, está desde sábado a ser fustigado pelo fogo, que ontem à noite tinha tomado toda a serra d’Arga e lavrava descontroladamente, depois de ter atravessado o concelho de Vila Nova de Cerveira, numa extensão estimada de cerca de 17 quilómetros. 328 operacionais com 108 viaturas combatiam as chamas, pro- curando travar a chegada às habitações, e, devido à intensidade do fogo, a estrada entre a A28 e a freguesia de Arga de S. João (Caminha), teve de ser cortada a cinco quilómetros da aldeia. E em Monção, um outro incêndio que começou sábado, às 22.56 horas, atingia já este domingo à noite o concelho vizinho de Melgaço, oferecendo um cenário idêntico. Estava a ser combatido por 154 operacionais com 48 viaturas.
O incêndio que dizimava uma extensa zona de mato, sem acessos, em pleno coração da serra d’Arga (freguesias de Argas de Baixo, de Cima e de São João), deflagrou sábado, às 11.16 horas, em Corgas, Candemil, Vila Nova de Cerveira, e deixou para trás um rasto negro de destruição.
“Cerveira ficou carvão e eu não tenho dúvidas de que foi mão criminosa. Sem nenhuma prova, mas, da experiência que tenho, digo que só pode ser fogo posto”, declarou o presidente da Câmara Municipal, Fernando Nogueira, que há 19 anos ocupa o cargo de responsável máximo da Proteção Civil no concelho (neste mandato na qualidade de autarca e antes como vereador).
E indica as razões da sua suspeita: “O incêndio começou em Candemil numa zona bem protegida, bem trabalhada, com aceiros, caminhos e tudo perfeitamente limpo, e depois pela hora a que começou, ainda o dia não estava quente e havia apenas uma brisa Norte”. “Foi bem estudado o local”, acusou.
Dezenas de habitantes viram as labaredas chegar e até mesmo atingir as suas propriedades. Foi o caso de Lurdes Porto, moradora na rua do Pinheiral em Loivo, uma freguesia situada às portas da vila de Cerveira, que, cerca das 13 horas de ontem, foi assaltada pelo fogo. “Foi um terror. Pensei que perdia a casa. O fogo com o vento passou para a parte de trás da casa que é onde tenho a caldeira do gasóleo. Foi a minha maior aflição”, conta Lurdes Porto, mostrando a sua propriedade completamente carbonizada. O marido, apicultor, estava inconsolável, além do susto com a habitação, também perdeu um colmeal que tinha na freguesia de France, situada no mesmo concelho.
Mais a norte, em Monção, os re-
latos semelhantes. Floresta a arder e casas em risco em várias freguesias, com a população alvoroçada, a temer pelos seus bens. “Desde sexta-feira que andamos de volta deste monstro. É impossível ter sido autoignição. Teve de haver um agente externo. Espero que as autoridades atuem e apanhem os responsáveis por isto”, queixava-se Carlos Eça, presidente da União de Freguesias e Messegães, Valadares e Sá.
Extensa área da serra d’Arga foi dizimada pelo fogo