Jornal de Notícias

Beto Casillas dá mentalidad­e ganhadora ao F. C. Porto

Beto Guarda-redes do Sevilha disputa hoje, diante do Barcelona, a Supertaça Europeia e ambiciona impor-se na equipa das quinas

- Arnaldo Martins desporto@jn.pt

Estão 40 graus em Sevilha, mas Beto está perfeitame­nte adaptado à cidade que o acolheu em 2013. Antes do jantar, em conversa com o JN, o internacio­nal português recua no tempo e projeta o futuro: “Não há motivos para mudar. Estou feliz aqui”. E, hoje, a felicidade do guarda-redes, de 33 anos, pode ganhar contornos ainda mais especiais. Disputa, na Geórgia, a Supertaça Europeia diante do Barcelona. E só pensa em ganhar.

Estamos no arranque de mais uma época. Lembrase, por exemplo, onde estava em 2002?

[Pensativo] No Chaves?

Não, no Casa Pia...

Sim, é verdade, foi quando fui emprestado pelo Sporting. Desde esse tempo, tem sido uma carreira a pulso, com altos e baixos, mas com muito trabalho e glória.

Nessa altura, estava na 3.ª Divisão. Agora, vai disputar a Supertaça Europeia com o Barcelona...

sonho comanda a vida. É o meu lema. Sempre sonhei com estes desafios e, obviamente, esta Supertaça vai ser um momento único.

Uma vez, disse que nunca teve padrinhos no futebol...

Sim, mas, felizmente, tive várias pessoas que acreditara­m no meu trabalho. Uma delas foi o Vítor Oliveira, que me marcou muito. Deu-me a oportunida­de de jogar no Leixões, onde tive a felicidade de ajudar o clube a subir à Liga, 18 anos depois.

Está agora numa realidade completame­nte diferente. Sevilha é aposta ganha?

Sem dúvida, estou num clube histórico e, em dois anos e meio, consegui coisas importante­s e sou bicampeão da Liga Europa. Sou respeitado e sinto-me feliz. Renovei por dois anos e sou um dos capitães. Essa responsabi­lidade agrada-me.

Acabou a época lesionado no ombro. Está recuperado?

Foram os piores três meses da minha carreira. A lesão que sofri no Santiago Bernabeu afastou-me das grandes decisões do fim da época. Agora, estou recuperado, sem dores, e pronto a ajudar o Sevilha no regresso à Liga dos Campeões, que é um grande estímulo para nós.

O futebol espanhol perdeu Casillas, que se transferiu para o F. C. Porto. Ficou surpreendi­do?

Sim, como a maioria das pessoas. Acompanho desde sempre a carreira do Iker, somos praticamen­te da mesma idade. O que posso dizer é que o F. C. Porto fez uma exO

O Helton tem palmarés e experiênci­a. O Iker [Casillas] vai adicionar mentalidad­e ganhadora e quem sai a ganhar é o F. C. Porto”

celente contrataçã­o. Não conheço os motivos, mas sei que saiu de um clube ganhador para outro com ADN de vitória. Está em plenas condições físicas e psicológic­as e vai valorizar o campeonato português. Acho que se juntou a fome à vontade de comer e todos saíram a ganhar.

Estava no Sporting, quando chegou um “monstro” chamado Schmeichel. Como é que os outros guarda-redes lidam com a chegada de um guardião desse nível?

Bem, porque todos vão aprender algo mais. No F. C. Porto, o Helton tem palmarés e experiênci­a. O Iker vai adicionar mentalidad­e ganhadora e quem sai a ganhar é o F. C. Porto. Vai ser uma competição saudável.

Gostava de regressar ao F. C. Porto com outro estatuto?

No futebol, tudo pode acontecer. Nunca fecho portas, nem elimino cenários. O F. C. Porto deu-me títulos e é uma casa onde fui muito feliz. Se um dia tiver de voltar, será com todo o prazer. Mas o que digo do F. C. Porto aplica-se a outro clube qualquer em Portugal, que será sempre o meu país de eleição.

E terminar a carreira onde começou, no Sporting?

Obviamente, o Sporting é um clube especial. Estive lá 11 anos. Foi onde cresci como homem, onde passei a adolescênc­ia e isso marca. Nutro muito carinho e, lá está, se tiver de acontecer, acontecerá.

Aprova a contrataçã­o de Jorge Jesus?

Claro, é fantástico, um treinador vitorioso e provou isso por onde passou. A expetativa é que o campeonato volte a ser uma luta a três. Está a mudar a mentalidad­e do Sporting e, com um bom plantel, vai adicionar qualidade à equipa.

Está a elogiar o treinador, que disse que era baixo e que nunca daria um excelente guarda-redes...

Lembro-me perfeitame­nte, mas mais do que responder ao Jorge Jesus, porque, ao fim e ao cabo, tenho grande respeito por ele, respondo às críticas no campo e, felizmente, acho que não há muitos guarda-redes que já conquistar­am, por três vezes, a Liga Europa.

Gostava de trabalhar com Jesus?

Por que não? Nunca tivemos uma relação próxima, mas não teria problema nenhum em trabalhar com Jesus. Não tenho nada contra, por aquilo que disse ou pela ideia que tem. Posso é não encaixar no perfil dele [sorriso].

Com a saída do Diogo Figueiras para o Génova, ficou apenas com a companhia de mais um compatriot­a, o Carriço...

A legião ficou mais curta, mas Portugal continua bem representa­do e é respeitado. A forma como defendemos o emblema do Sevilha é suficiente para que nos respeitem.

E há respeito por Cristiano Ronaldo, em Madrid?

Sim. Quando tens sucesso, é normal seres atacado. O Cris lida bem com isso. Conheçoo há muitos anos e sei que dá as devidas respostas no campo. Sou suspeito para falar dele, porque somos amigos, mas Ronaldo é trabalho, rendimento e bate recordes.

Ele está feliz no Real Madrid?

Não convivemos diariament­e, mas, pelo que percebi das últimas vezes que estivemos juntos, sim, está bem.

De volta à sua carreira. Não está cansado de ser a sombra de Rui Patrício na seleção?

Sou um jogador de trabalho, de coletivo e há um caminho a percorrer. Traço metas e confio nas minhas capacidade­s, mas respeito as decisões. É legítimo que queira ser titular na baliza da seleção, mas isso só se consegue com trabalho e só sei seguir esse caminho. Também preciso estar bem no Sevilha.

Sente-se inferior ao Rui Patrício?

Não me sinto inferior, nem superior a ninguém. Tenho qualidades, defeitos, e confio muito em mim. Tenho paixão pela posição que ocupo e ainda tenho muitos anos pela frente para desfrutar do que faço. Esta profissão é demasiado bonita para alguém estar triste.

Portugal vai estar no Euro, em França? O mais difícil parece estar feito...

Estamos no bom caminho, mas ainda faltam algumas batalhas. Temos a vantagem de dependermo­s apenas de nós e acredito que vamos ser bem sucedidos.

Faltam 16 jogos para chegar

aos 100 no Sevilha...

Vai ser um momento bonito. Por isso, quando olho para trás, sinto-me grato. Passei momentos difíceis, no Marco, não recebia e sentia-me triste. O convite do Vítor Oliveira e o Leixões, como já disse, permitiram-me relançar a carreira.

No dia que assinou pelo Leixões, o seu pai faleceu...

Sim, ainda jantei com ele nessa noite. Na altura, ficou feliz, porque a minha carreira ia dar um novo impulso. O meu pai é o meu anjo. Está lá em cima a dar aquela ajuda extra quando mais preciso.

Como nos penáltis com o Benfica, na final da Liga Europa, em Turim?

Cada um é livre de pensar o que quer. Quando levantei a Taça, ergui as mãos para ele, pois sei que está sempre comigo.

Jorge Jesus é um técnico vitorioso e está a mudar a mentalidad­e do Sporting”

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