Espanha Português suspeito de burlar 1,8 milhões de investidores
Ex-motorista era o administrador de empresa que captou poupanças e investimentos de mais de mil milhões de euros
Um ex-motorista português, Rui Miguel Pires Salvador, está a ser investigado pelas autoridades espanholas, que suspeitam de uma fraude de grandes proporções, num negócio de esquema piramidal que terá atraído cerca de 1,8 milhões de investidores de 26 países, com a promessa de ganhos anuais até 350%. A fraude ter-se-á consumado sob a chancela da empresa LibertàGià, que, segundo noticiou o espanhol “El País” no último fim de semana, com base em documentos de um tribunal de Granada, captou poupanças e investimentos, em menos de dois anos, de 1.079 milhões de euros.
O mesmo jornal alude a diligências da Interpol sobre o assunto. Em Portugal, a Procuradoria-Geral da República disse-se sem condições para esclarecer, ontem, se existe alguma investigação em curso.
Os sinais de perigo não são de agora. A LibertàGià começou a operar no final de 2013, após a sua apresentação no Oceanário, em Lisboa, mas em agosto de 2014 surgiam já as primeiras queixas sobre incumprimentos. Em fevereiro deste ano, o aviso da “Proteste Investe” era claro: “Mantenha-se afastado”.
A publicação da DECO explicava que a LibertàGià se apresentava como uma entidade que criava “aplicações da Internet para resolver problemas do quotidiano”, mas que o seu negócio assentava “numa estratégia de marketing multinível, muito similar a um esquema piramidal, em que são prometidos valores pecuniários e bens materiais em função do volume de vendas e da angariação de novos membros”. “Não existe qualquer garantia de que a entidade cumpra com todos os seus compromissos”, avisava.
Salvador em silêncio
O site Fraude.pt foi ainda mais explícito: “A LibertàGià é uma fraude multinível criada por brasileiros que está localizada em Lisboa, Portugal. Este esquema em pirâmide decidiu usar Portugal como a sua base, depois de ter visto que o Brasil já não é mais um lugar seguro para criar este tipo de esquemas fraudulentos”, denunciam.
Salvador, segundo o “El País”, vivia com três filhos num luxuoso chalé da zona de Lisboa. Mas os vídeos ainda online da “TV Liberta”, através do qual comunicava com investidores, num estilo entre as televendas e as emissões da Igreja Universal do Reino de Deus, são todos ou quase todos de 2014. Nos últimos tempos, Salvador tem estado em silêncio e, provavelmente, em parte incerta.