“Olhei para a encosta e vi uma bola de fogo”
Miranda do Corvo Segade reviveu drama de há dez anos. Falta de água deixou população em pânico
Paula Nunes ainda se lembra da última vez que tinha visto um cenário semelhante ao de domingo na localidade de Segade, Miranda do Corvo. “Sei de cor o dia: 22 de agosto de 2005. Agora, estamos prontos para mais 10 anos”, recorda. Apesar de já não ter sido a primeira vez, a habitante de Segade ainda não está refeita do susto. “Foi uma desgraça. Olhei para a encosta e só via uma bola de fogo”, afirma.
Catarina Lebre é proprietária de uma taberna em Segade e também descreve o cenário que viveu. Às duas da madrugada foi distribuir comida e água pelos bombeiros que combatiam as chamas. “Foi muito parecido com o incêndio de 2005. Na altura, as minhas oliveiras arderam, tive chamas de três metros no quintal. E andei três dias a servir refeições aos bombeiros”, lembra.
Um dia depois, o fogo que percorreu o concelho de Miranda do Corvo ainda é o tema de conversa entre os habitantes. Um anexo de uma casa pertencente a um casal inglês ardeu totalmente. Uma vizi- nha do casal contou ao JN que este tinha voltado de férias no próprio dia, e que o anexo tinha sido concluído há poucos meses. Os hóspedes de uma casa de turismo rural em Segade tiveram de sair devido à falta de água. Uns metros mais à frente, um barracão também ardeu totalmente, já na manhã de ontem. “Foram momentos de pânico, ainda mais porque não tínhamos água. Vamos ver se já acabou”, conta Piedade Costa, a proprietária, que, apesar de tudo, vê a destruição do espaço como um mal menor. “Antes o barracão do que a minha casa”, entende.
O incêndio de Miranda do Corvo só ficou controlado à 4.40 horas de segunda-feira. Durante o dia de ontem ainda houve alguns focos e dois reacendimentos.