Emigrantes em fúria recusam nova proposta
Protesto Lesados do BES exigem devolução da totalidade das poupanças investidas e não apenas 60% como propõe o Novo Banco
“O meu pai queria investir o dinheiro do Novo Banco e criar postos de trabalho. Mas como ficou com as contas bloqueadas, já não vai poder fazer absolutamente nada”. A história é contada enquanto os emigrantes lesados pelo BES descem pela Avenida da Liberdade. Joaquim (nome fictício) representa o pai, emigrante na Suíça que subscreveu o produto Poupança Plus, um dos três produtos que foram subscritos por muitos portugueses no estrangeiro.
O Movimento dos Emigrantes Lesados (conhecido como MEL) bloqueou ontem aquela avenida da capital. O corpo policial era bastante visível, num ambiente que já se previa quente: os termómetros marcavam 30 graus. Mas os manifestantes não cederam e iniciaram o “jogo do empurra” contra a PSP. Tudo se passou quando ainda não tinham chegado os outros lesados, do papel comercial.
Joaquim está acompanhado por Tânia (nome fictício), a representar a família, que vive na Alemanha. Os dois moram entre a zona de Viseu e da Guarda. Garantem que já vi- ram nos balcões do Novo Banco clientes do antigo BES a assinar a proposta que prevê a “devolução de 60% do capital, que é convertido em obrigações”.
Mas a instituição só propõe devolver o resto do dinheiro “lá para 2050 e sem qualquer pagamento de juros”, queixam-se. Os lesados querem “já” com os 100% do capital investido.
Cavaco Silva é um dos alvos do protesto. “Quando precisou de nós para depositar o dinheiro em Por- tugal, o presidente da República tratava-nos como compatriotas. Agora sentimo-nos enganados e traídos”, queixam-se Manuel e Isaura Antunes.
O casal, com 45 anos de trabalho, assegura: “Nunca mais pomos dinheiro em Portugal. Tivemos projetos cá que não podemos continuar. Somos muito melhor tratados em Paris” (onde residem).
Já Paulo Santos representa um lesado do BES de Braga. “Confiámos no nosso gestor de conta, que nos disse que o produto era infalível e com o capital garantido”. Este é um dos casos dos lesados do papel comercial do BES, cuja associação também acompanhou o percurso.
“Nunca mais ponho dinheiro em Portugal”, garante um dos emigrantes lesados no protesto
Mas a hipótese de o processo de venda do Novo Banco ser adiado está a ganhar dimensão.
“Isso seria o pior cenário de todos”, refere Tânia. “Nunca mais resolveriam o nosso problema e aí é que não voltaríamos a ter todo o nosso dinheiro de volta, que é aquilo que queremos”.