“Há pessoas a chegar desesperadas”
PORTIMÃO ”Há situações desesperadas”. O padre Mário Sousa, responsável pela Cáritas Paroquial da Matriz de Portimão”, recebe-nos à porta da cantina social que apoia 216 famílias (cerca de 700 pessoas, 151 das quais com menos de 12 anos). “Ainda aqui há tempos veio ter comigo um homem, pai de três filhos, que tinha acabado de perder o subsídio de desemprego. Com a emoção, nem dizia nada, só chorava”.
À semelhança do que se vê na realidade nacional, por aqui abundam também os casos de “pobreza envergonhada”, de famílias que ainda há meia dúzia de anos pertenciam a uma classe média, que lhes conferia um nível de vida muito confortável.
É o caso de Luís Pereira. Aos 63 anos vive a experiência inédita de recorrer à ajuda alimentar. “Trabalhava numa empresa de prospeção e venda de material para piscinas e a minha mulher numa imobiliária. Mas fomos ambos despedidos e, de repente, a nossa vida complicou-se. Acabámos por ter de entregar a nossa casa ao banco e agora estamos a viver numa emprestada”.
“O sol do Algarve esconde, ou pelo menos atenua, muitas destas realidades”, lamenta o padre Mário Sousa. Ao lado, a responsável pela cantina, Manuela Sousa, dá sinal de concordância. “Com a classe média é complicado. Têm vergonha de pedir e, muitas vezes, quando vêm ter connosco nem conseguem dizer nada”.
Noutros casos, as carências determinam que se ultrapassem as barreiras da vergonha ou das crenças. Ana Injai, de 53 anos e natural da Guiné-Bissau, é muçulmana, mas não hesita em recorrer ao apoio de uma instituição ligada à igreja católica. “Não me importo de receber o apoio da Cáritas. Eles ajudam-me bastante. Até me vão comprar os medicamentos, porque sou diabética”.
Em Portimão, o alívio na crise não se sente. Pelo contrário, sublinha Mário Sousa. “Há um aumento dos pedidos. Este ano, em seis meses já distribuímos 50 toneladas de alimentos, enquanto no ano passado inteiro foram 67”.