Contas à vida antes de verem casas submersas
Construção de três barragens vai fazer desaparecer aldeias e campos agrícolas. Indemnizações são a preocupação da população das zonas ribeirinhas
Moradores ainda não acreditam que projeto vai avançar, mas Governo já decretou suspensão do PDM
As populações ribeirinhas do Alto Tâmega aguardam com serenidade pelo dia em que terão de mudar de casa devido à construção de três barragens que vão alagar terrenos agrícolas, habitações, estradas e pontes, nos concelhos de Ribeira de Pena, Boticas, Cabeceiras de Basto, Chaves e Vila Pouca de Aguiar.
Na última semana, o Governo deu mais um passo para que essas construções sejam uma realidade com a suspensão, por dois anos, dos planos diretores municipais. Na prática, ninguém poderá intervir nestas áreas de influência das barragens de Gouvães, Alto Tâmega e Daivões, sendo apenas permitidas atividades agrícolas e florestais. No total, há cerca de 60 casas que serão “engolidas” pelas águas do Tâmega, mas os habitantes das margens do rio não estão, para já, preocupados em demasia com o futuro.
“Ainda não negociaram nada. Há cerca de quatro anos estiveram cá uns senhores a ver isto tudo, mas depois nunca mais disseram nada”, disse, ao JN, António Manuel Alves, emigrante em França, mas proprietário da habitação onde reside o pai, no lugar da Ribeira de Baixo, em Ribeira de Pena. Nesta zona mais de 20 casas vão desaparecer por força da albufeira da barragem de Daivões. “Este projeto nunca deveria ter sido aprovado. Ainda não sabemos quanto dinheiro nos vão dar por metro quadrado de terreno nem pela casa. Tenho receio pelo que vai acontecer porque o meu pai mora nesta casa”, assumiu António Manuel, conhecido por “Tonecas” e que vai ver desaparecer o local das suas brincadeiras de criança.
Futuro indefinido
Apesar de assistirem a algumas movimentações que levam a crer que o processo de construção das barragens está em curso, os habitantes de Ribeira de Baixo esperam ver para crer, como explicou, ao JN, Manuel Leite. “Ainda não acredito que se vá fazer mesmo a barragem. Ouve-se tanta coisa que chega a um ponto que não sabemos o que vai acontecer. Já cá vieram medir as casas há quatro anos, mas depois não houve qualquer contacto”. Este morador do lugar tem uma casa ainda por terminar em alguns acabamentos e garante que não investirá mais num local onde não sabe quanto mais vai existir. “Estamos num impasse. Ia gastar 1700 euros para colocar aqui uns portões, mas já desisti. Não vou investir nesta casa mais dinheiro porque não sei quanto tempo vou aqui ficar”.
Este complexo de barragens será explorado pelos espanhóis da Iberdrola e deverá estar concluído em 2023.