Os cartazes não enganam
Circular, por estes dias, nalgumas cidades onde plantaram cartazes partidários faz despertar em nós sentimentos opostos: ora somos arrastados por uma onda de confiança ou esperança, ora somos violentados com estatísticas deprimentes que, se formos ao volante do carro, podem tornar-se perigosas para a nossa integridade física. São os efeitos psicológicos da campanha eleitoral: a realidade é um pedaço de plasticina. Depende do que quer ocultar-se e do fim que quer atingir-se. As coisas não estão tão más como pintam é a versão A; o país caminha a passos largos para o abismo é a versão B. No princípio da rua, Portugal é um paraíso; no fim da rua, só nos apetece emigrar.
Neste particular, o PS – que podia beneficiar como nenhum partido de uma mensagem política bem direcionada – espalhou-se ao comprido. Fez tudo mal. De uma forma grosseira e amadora. Usou figurantes a quem não foi pedida autorização expressa para comporem os cartazes, associou, de forma enganosa, as histórias destes cidadãos-bandeira a realidades sociais a que não pertencem e lançou um anátema sobre um tempo político em que era o PS que mandava no país. Pelo meio, deixou-se enredar num jogo de culpas que tornou ainda mais risível o folhetim. Tudo para concluirmos que, afinal, os cartazes foram gerados de forma espontânea.
O PSD e o CDS, que andam há uma semana a rebolar-se pelo chão de tanto rir, acabaram por provar de um remédio parecido no gosto, devidamente servido num copo largo pelos socialistas. Os figurantes sorridentes dos cartazes da coligação de Direita não são falsos desempregados nem cidadãos que não autorizaram o uso da imagem. São modelos estrangeiros que tanto dão a cara pela igualdade em Portugal como pela formação no trabalho na Austrália ou pelos serviços de consultadoria em França. São assalariados dos bancos de imagem.
Face à ausência de conteúdo sobre as propostas eleitorais (a exceção desonrosa é a troca de pontos de vista sobre quem vai ter direito a uma cadeira nos confrontos televisivos), resta-nos a forma. É para ela que vive hoje a política.
Por isso é que os cartazes do PS e do PSD e CDS não enganam. Porque espelham em tamanho gigante os verdadeiros propósitos de quem mascara as suas debilidades, e as do país, e as transforma num apetecível produto publicitário. Só faltam os cartões de desconto. Haja esperança.