Incêndios sem equipas para uso de contrafogos
Grupo de Análise e Uso do Fogo ICNF deixa dispositivo sem equipas constituídas. Bombeiros “Canarinhos” resolvem a lacuna sozinhos e sem veículos especiais
O período de maior perigo da “época de fogos” – a chamada fase “Charlie” – está a decorrer sem nenhuma das seis equipas de análise e uso do fogo oficialmente previstas no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) para apoio à realização de manobras de contrafogo e fogo tático.
A falta daquelas equipas, da responsabilidade do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e que deveriam estar às ordens do comandante operacional nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil, tem sido suprida com recurso apenas aos elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB), vulgo “Canarinhos”, segundo esclarecimento da ANPC, e a três ou quatro técnicos do ICNF.
De acordo com a diretiva operacional que fixou o DECIF, o dispositivo deveria contar, entre 1 de julho e 30 de setembro, com seis equipas do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF), com três elementos cada uma, apoiadas por seis veículos especializados.
Criadas e tecnicamente coordenadas pelo ICNF, as seis equipas de GAUF deveriam ser guarnecidas pelos 12 elementos da FEB que estão credenciados como técnicos de fogo de supressão e por seis técnicos superiores daquele instituto, aos quais caberia a coordenação.
Ao que o JN apurou, depois de ter verificado atrasos na constituição de equipas nos anos anteriores, desta vez o ICNF não conseguiu dispor de técnicos, tendo ficado desertos os concursos de recrutamento e de adjudicação direta. Por isso, nenhuma equipa foi constituída.
Questionado pelo JN sobre as razões pelas quais não foram criadas equipas e quando serão repostas, o Ministério da Agricultura e do Mar não respondeu em tempo útil.
As equipas de GAUF, que funcionam em apoio aos comandantes das operações de socorro, são fundamentais para analisar a situação pelo menos dos grandes incêndios, avaliar as probabilidades de evolução e identificar as oportunidades para a utilização de fogo de supressão
Doze elementos da FEB são credenciados para análise e uso do fogo, mas atuam sem coordenação técnica
(fogo tático ou contrafogo), sendo responsáveis pela sua orientação e execução.
O JN sabe que os “três ou quatro” técnicos do ICNF credenciados para análise e uso do fogo têm vindo a prestar esse apoio pontual. Para remediar a lacuna, que se faz sentir especialmente nos grandes fogos, a ANPC adianta que tem “recorrido a elementos da FEB que estão devidamente certificados para o efeito”.
Segundo o Regulamento do Fogo Técnico, “as ações de fogo de supressão são executadas sob a orientação e responsabilidade de técnico credenciado em fogo de supressão pela ANPC”.
Embora a diretiva que estabelece o DECIF não o preveja expressamente, a FEB – a força profissional de bombeiros da ANPC – mantém operacional o conjunto de 12 elementos.
Mas, além da ausência de coordenação técnica, o dispositivo da FEB não tem à sua disposição nenhum dos seis veículos do ICNF – de tração às quatro rodas e, sobretudo, dotados de equipamento especial para análise de fatores de comportamento do fogo.