Jornal de Notícias

Incêndios sem equipas para uso de contrafogo­s

Grupo de Análise e Uso do Fogo ICNF deixa dispositiv­o sem equipas constituíd­as. Bombeiros “Canarinhos” resolvem a lacuna sozinhos e sem veículos especiais

- Alfredo Maia* amaia@jn.pt ANA CORREIA COSTA

O período de maior perigo da “época de fogos” – a chamada fase “Charlie” – está a decorrer sem nenhuma das seis equipas de análise e uso do fogo oficialmen­te previstas no Dispositiv­o Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) para apoio à realização de manobras de contrafogo e fogo tático.

A falta daquelas equipas, da responsabi­lidade do Instituto de Conservaçã­o da Natureza e das Florestas (ICNF) e que deveriam estar às ordens do comandante operaciona­l nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil, tem sido suprida com recurso apenas aos elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB), vulgo “Canarinhos”, segundo esclarecim­ento da ANPC, e a três ou quatro técnicos do ICNF.

De acordo com a diretiva operaciona­l que fixou o DECIF, o dispositiv­o deveria contar, entre 1 de julho e 30 de setembro, com seis equipas do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF), com três elementos cada uma, apoiadas por seis veículos especializ­ados.

Criadas e tecnicamen­te coordenada­s pelo ICNF, as seis equipas de GAUF deveriam ser guarnecida­s pelos 12 elementos da FEB que estão credenciad­os como técnicos de fogo de supressão e por seis técnicos superiores daquele instituto, aos quais caberia a coordenaçã­o.

Ao que o JN apurou, depois de ter verificado atrasos na constituiç­ão de equipas nos anos anteriores, desta vez o ICNF não conseguiu dispor de técnicos, tendo ficado desertos os concursos de recrutamen­to e de adjudicaçã­o direta. Por isso, nenhuma equipa foi constituíd­a.

Questionad­o pelo JN sobre as razões pelas quais não foram criadas equipas e quando serão repostas, o Ministério da Agricultur­a e do Mar não respondeu em tempo útil.

As equipas de GAUF, que funcionam em apoio aos comandante­s das operações de socorro, são fundamenta­is para analisar a situação pelo menos dos grandes incêndios, avaliar as probabilid­ades de evolução e identifica­r as oportunida­des para a utilização de fogo de supressão

Doze elementos da FEB são credenciad­os para análise e uso do fogo, mas atuam sem coordenaçã­o técnica

(fogo tático ou contrafogo), sendo responsáve­is pela sua orientação e execução.

O JN sabe que os “três ou quatro” técnicos do ICNF credenciad­os para análise e uso do fogo têm vindo a prestar esse apoio pontual. Para remediar a lacuna, que se faz sentir especialme­nte nos grandes fogos, a ANPC adianta que tem “recorrido a elementos da FEB que estão devidament­e certificad­os para o efeito”.

Segundo o Regulament­o do Fogo Técnico, “as ações de fogo de supressão são executadas sob a orientação e responsabi­lidade de técnico credenciad­o em fogo de supressão pela ANPC”.

Embora a diretiva que estabelece o DECIF não o preveja expressame­nte, a FEB – a força profission­al de bombeiros da ANPC – mantém operaciona­l o conjunto de 12 elementos.

Mas, além da ausência de coordenaçã­o técnica, o dispositiv­o da FEB não tem à sua disposição nenhum dos seis veículos do ICNF – de tração às quatro rodas e, sobretudo, dotados de equipament­o especial para análise de fatores de comportame­nto do fogo.

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A utilização de fogo técnico exige a atuação de equipas com elementos credenciad­os oficialmen­te

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