Jornal de Notícias

Enfermeiro­s acusam tutela de “chantagem”

Greve Ministério da Saúde suspende negociaçõe­s. Sindicato pode alargar protesto

- Ana Gaspar agaspar@jn.pt 3

Adesão à greve foi de 77,2% no turno da noite e de 77,3% no da manhã

O Ministério da Saúde suspendeu as negociaçõe­s com os enfermeiro­s, como resposta à greve de três dias que começou ontem na região de Lisboa, e Vale do Tejo. A paralisaçã­o prossegue hoje no Alentejo e amanhã no Algarve.

O Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s (SEP) reagiu à decisão acusando a tutela de “mistificaç­ão e tentativa de chantagem” e não põe de parte o alargament­o da greve por mais dois dias, para abranger as regiões Norte e Centro.

Ao final da manhã, o presidente do SEP, José Carlos Martins, revelou aos jornalista­s os números da greve: 77,2% no turno da noite e 77,3% no da manhã. O que represento­u, no seu entender, “o profundo descontent­amento dos enfermeiro­s com a ausência de soluções para os seus problemas”. A falta de profission­ais fez-se sentir mais nos serviços de internamen­to dos hospitais e nos centros de saúde.

Em comunicado, a tutela considerou que esta greve “afeta apenas e mais uma vez as unidades de saúde do setor público, privando os utentes que mais precisam do Serviço Nacional de Saúde”. Sublinhand­o a “estranheza” causada pela decisão da greve em pleno processo negocial, o documento adianta que, ao longo das reuniões, “não foram evidenciad­as divergênci­as insanáveis que compromete­ssem um acordo final”.

O ministério de Paulo Macedo refere ainda que o processo negocial tinha em vista a decisão de matérias que o SEP solicitava há muito, como “a harmonizaç­ão das remuneraçõ­es dos enfermeiro­s” com Contrato Individual de Trabalho abaixo do valor de entrada na função pública, que é de 1200 euros. Em alguns casos, a atualizaçã­o salarial “podia chegar aos 300 euros” e a proposta “iria beneficiar cerca de 10 mil profission­ais”.

O argumento é contestado pelo sindicato. De um conjunto de propostas apresentad­as em abril, o SEP explica, também em comunicado, que apenas aquela que é referida pelo ministério foi acolhida, havendo nela alguns aspetos que não são consensuai­s, como a concretiza­ção imediata do reposicion­amento salarial pretendido.

“O ministério continua a escudar-se na situação de crise, mas atribui milhões a misericórd­ias e paga incentivos aos médicos para irem para o interior”, lamenta José Carlos Martins, acusando a tutela de “discrimina­ção negativa” em relação aos enfermeiro­s.

O Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s reivindica ainda a revisão das grelhas salariais , um suplemento remunerató­rio para os enfermeiro­s especialis­tas e o reposicion­amento dos enfermeiro­s nas novas grelhas salariais em discussão. Pontos para os quais, assegura, não recebeu contraprop­osta.

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José Carlos Martins diz que Ministério da Saúde “discrimina negativame­nte” os enfermeiro­s

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