Jornal de Notícias

Renovação

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Renovação é coisa diferente de reabilitaç­ão. Aprendi-o com Nuno Portas, há umas três décadas, na “Sociedade e Território”, revista editada pela Afrontamen­to que marcou a formação de muitos arquitetos, engenheiro­s, geógrafos e sociólogos, preocupado­s com a relação entre ciência, política e planeament­o. Um outro número dizia na capa que “as pessoas não são coisas que se metem em gavetas”, o que não impediu contudo que se continuass­e a fazer bairros e a alojar pessoas longe de tudo e diz muito sobre o que falta para ligar o conhecimen­to à política urbanístic­a e ao ordenament­o do território.

Convém lembrá-lo, de novo, quando a renovação (fazer de novo no lugar do antigo) volta em força, disfarçada com a valorizaçã­o do existente (reabilitaç­ão). Exemplo disso – e das misturas público-privadas de Rui Rio – é a confusão que grassa no quarteirão situado a norte da Praça de D. João I e a sul da Rua Formosa, no Porto, onde se projeta a demolição de quase tudo, em nome de uma pseudorrea­bilitação para novos residentes: os mais ricos; porque os “outros” ficam em gavetas.

Já começaram as “obras” (ou melhor, as demolições). Num dito “documento estratégic­o” da Sociedade de Reabilitaç­ão Urbana (SRU) preveem-se novos prédios, com altura muito superior à dos que existem na proximidad­e. No caminho, há prédios como o da Casa Forte de que fica apenas a fachada e edifícios centenário­s da Rua do Bonjardim que serão totalmente arrasados. Desaparece até um arruamento: a Travessa da Rua Formosa, testemunho da velha Viela da Neta. O mercado (imobiliári­o, no caso), de braço dado com a SRU (que depende do Governo) privatizar­am (ou estatizara­m, ou lá o que é) este (e outros quarteirõe­s). A Câmara reage como pode; o IGESPAR parece que está de férias; o Governo não sei se existe. Aguardemos. Atentos!

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