Três mil médicos pediram reforma desde 2011 para ir trabalhar no privado
Êxodo nunca visto, denuncia federação do setor
Mais de três mil médicos pediram reforma antecipada desde 2011. A maioria saiu do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para ir para o setor privado, mas há um número crescente de profissionais a emigrar. É um êxodo nunca visto no país, nem durante a Guerra Colonial. O alerta é da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que fez ontem, em conferência de imprensa, um balanço de quatro anos de governação na área da saúde.
Desde 2009 que um número elevado de médicos solicita aposentação antes de atingir a idade da reforma, mas é desde 2011 que a tendência se agravou. Este ano, parece haver um ligeiro declínio nos pedidos de reforma antecipada, mas os números não são ainda definitivos, explica Merlinde Madureira. A presidente da FNAM considera que a saída massiva de profissionais coloca em risco os serviços públicos, ao mesmo tempo que torna mais distante a concretização da meta de todos os portugueses terem médicos de família.
“Estamos a perder os mais experientes, que geralmente vão para o setor privado, embora alguns também emigrem. E estamos a perder também os mais novos e dinâmicos, que vão para países onde as condições de trabalho são muito mais atrativas”, criticou Merlinde Madureira ao JN. A dirigente dá como exemplo países do Norte da Europa, ávidos de contratar jovens médicos portugueses, que chegam a oferecer contratos de trabalho mesmo antes do fim do internato de especialidade.
“É um êxodo de médicos nunca visto no nosso país. Nem no período da Guerra Colonial houve tantos médicos a saírem para outros países. Não porque no seu país não tivessem emprego, mas porque estavam a ser mal tratados, mal remunerados e sem perspetivas de progressão. São centenas e centenas de médicos”, afirmou Mário Jorge Neves, também dirigente da FNAM, citado pela Lusa.
Entre os que deixam o SNS há muitos da especialidade de medicina geral e familiar, agravando o quadro de carência nos centros de saúde. “O Ministério da Saúde colocou como objetivo dar um médico de família a cada português. Passados quatro anos, é possível dizer com segurança e justiça que o objetivo foi levianamente fixado e incompetentemente conduzido”, afirmou, por seu lado, Henrique Botelho.
Merlinde Madureira recorda que, em 2012, a FNAM aceitou aumentar transitoriamente a lista de cada clínico com horário de 40 horas de 1550 para 1900 utentes. Agora, o Ministério da Saúde pretende dar incentivos aos médicos para aceitarem 2300/2400 doentes. “Não devia ser permitido, há limites que não devem ser ultrapassados. A solução passa por abrir mais unidades de saúde familiar de tipo B, em que são contratualizados serviços para servir toda a população.”