Livros de políticos à margem dos leitores
Biografias de líderes partidários despertam pouco interesse, apesar do aumento da oferta
Nas semanas que antecedem as eleições, as montras das livrarias britânicas tornam-se subitamente todas iguais. Em vez dos “bestsellers” do costume, os lugares de exposição máxima ficam entregues a livros de teor político, sejam biografias, discursos ou programas partidários.
Um cenário antagónico do português, em que as obras de ou sobre políticos são alvo de “fraca procura”, como confirmou ao JN o gerente da Livraria Leitura, no Porto, Joaquim Santos. O protagonismo só acontece quando a figura em causa é associada a algum escândalo. Foi este o caso dos dois livros mais vendidos até ao momento: “Cercado: os dias fatais de José Sócrates”, de Fernando Esteves, e “A minha prisão”, relato dos dias de cárcere do antigo presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais.
“Em Inglaterra é impossível alguém candidatar-se a um cargo político sem ter de antemão publicados livros que enunciem o seu pensamento”, sentencia Zita Seabra, editora da Alêtheia, que publicou a primeira biografia de Pedro Passos Coelho.
Francisco Camacho, editor da Esfera dos Livros, afirma que “não faz sentido” fazerem-se comparações com a realidade anglo-saxónica: “A democracia portuguesa é demasiado recente, precisa de amadurecer. Teve a mesma figura no poder durante quatro décadas. Não admira que Salazar ainda seja a grande ‘pop star’ em matéria de livros sobre políticos”.
Num segmento onde imperam os livros que resultam de encomendas partidárias – ou não fossem os militantes os principais destinatários –, as biografias não autorizadas podem contar-se pelos dedos de uma mão. O editor Rui Costa Pinto, autor de “José Sócrates, o homem e o líder”, considera que a pequenez do meio não é suficiente para explicar. “Só é pressionado quem quer. Os que se sentem pressionados para escrever livros políticos devem dedicar-se a outra atividade”, defende.
Apesar do panorama pouco risonho, a oferta editorial neste segmento tem crescido: com exceção de Jerónimo de Sousa e Paulo Portas, os principais líderes políticos publicaram livros nos últimos meses.