Jornal de Notícias

Papa visitou Fidel em casa e trocaram livros

Primeira missa do Papa após reatar de relações com EUA. Francisco encontrou-se com Fidel Castro

- Joana Amorim jamorim@jn.pt

Na primeira missa na capital cubana, na icónica Praça da Revolução, com capacidade para 600 mil pessoas, e com a imagem de Che Guevara à sua esquerda, o Papa reconheceu a “vocação de grandeza” dos cubanos, instando-os a “cuidar e servir”. Na mesma praça onde já presidiram à missa João Paulo II (1988) e Bento XVI ( 2012), Francisco lembrou que o “serviço nunca é ideológico, já que não se serve a ideias, mas a pessoas”. Na tão aguardada homilia, o sumo pontífice frisou ainda que “quem não vive para servir, não serve para viver”. Não um servir de “servilismo” ou um “serviço que se serve dos outros”, mas um servir “por amor”.

Referência­s à atual situação política e social em Cuba não houve. Houve, sim, um apelo pela reconcilia­ção na Colômbia. Após recitar o Angelus, o bispo de Roma dirigiuse “à amada terra da Colômbia, ciente da importânci­a crucial do momento presente”. Francisco foi claro: “Não podemos permitir outro fracasso neste caminho de paz e reconcilia­ção”. E, nesse caminho, lembrou os esforços feitos por Cuba nas negociaçõe­s entre o Governo de Bogotá e as Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia (FARC). Recorde-se que as FARC solicitara­m, em agosto, um encontro oficial com o Papa, o que veio a ser negado pelo Vaticano.

De acordo com o “El País” vários opositores ao regime foram detidos e impedidos de se aproximare­m da Nunciatura Apostólica, a “casa” do Papa em Havana. Há também relatos de manifestan­tes que tentaram chegar ao papamóvel e que acabaram detidos. No sábado à noite, questionad­o pelos jornalista­s se Francisco passaria por Cuba sem re- ceber ou mencionar os dissidente­s, o porta-voz Federico Lombardi fez saber “que nem tudo numa visita papal são discursos públicos, também há assuntos que se tratam em privado”.

Encontro com Fidel Castro

Depois de, no discurso de boas-vindas, o Papa ter pedido ao presidente Raúl Castro “para transmitir os sentimento­s de especial consideraç­ão e respeito ao seu irmão Fidel”, Francisco encontrou-se ontem, durante cerca de 40 minutos, com o líder histórico de Cuba. Um encontro “muito familiar e informal”, segundo Lombardi. A reunião na casa do revolucion­ário cubano, onde estava presente a mulher de Castro, aconteceu após a missa e, segundo o Vaticano, Francisco e Fidel falaram de “temas da problemáti­ca mundial de hoje”, em particular sobre o meio ambiente. No final, trocaram livros.

Numa visita que ocorre pouco tempo após o reatar dos laços diplomátic­os entre Cuba e os Estados Unidos, o Papa instou “ao processo de normalizaç­ão das relações entre os dois povos”. Até porque o “mundo precisa de reconcilia­ção”, voltando a lembrar que vivemos numa espécie de “III Guerra Mundial por etapas”. Raúl Castro, por sua vez, sublinhou que o embargo económico é “cruel, ilegal e imoral”. O Papa e o presidente de Cuba tinham novo encontro marcado para ontem à noite.

 ??  ??
 ??  ?? Centenas de milhares de pessoas assistiram, ontem de manhã, à missa presidida pelo Papa na Praça da Revolução
Centenas de milhares de pessoas assistiram, ontem de manhã, à missa presidida pelo Papa na Praça da Revolução

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal