Jornal de Notícias

Juiz adultera 59 processos para melhorar nota

Bragança Miguel Vasconcelo­s responde por três crimes de abuso de poder, falsidade informátic­a e violência doméstica

- Glória Lopes policia@jn.pt

Miguel Vasconcelo­s, antigo juiz-presidente do Tribunal Administra­tivo e Fiscal de Mirandela (TAF), acusado de três crimes de abuso de poder, falsidade informátic­a sob a forma continuada e violência doméstica, que começou a ser julgado ontem no Tribunal de Bragança, solicitou ao coletivo a exclusão de publicidad­e do julgamento e que este se realizasse à porta fechada. Uma pretensão indeferida pelo tribunal durante a análise da parte profission­al do arguido, “por não se vislumbrar que a publicidad­e provoque grave dano”. Porém, já quando o tribunal se debruçou sobre as acusações de violência doméstica o público foi mandado sair da sala.

O juiz, de 49 anos, a residir no Porto e entretanto suspenso de funções, está acusado de adulteraçã­o informátic­a do estado de 59 processos, passando-os para concluídos, quando anda não tinha sido proferida a sentença para “viciar as estatístic­as” e “aumentar artificial­mente a sua produtivid­ade”. Incorre numa pena que poderá chegar aos 19 anos de prisão.

No final da primeira sessão, o arguido disse ao JN que está de “consciênci­a tranquila”. Já a sua advogada, Marisa Simões, considera que a justiça se faz nos tribunais e que todas as acusações vão ser refutadas “porque isto é um aproveitam­ento económico da ofendida”.

Alerta sobre atrasos

O juiz disse estar “totalmente disponível para colaborar com o tribunal” e ocupou a primeira sessão do julgamento a explicar os procedimen­tos administra­tivos e informátic­os da submissão de processos no Sistema de Informação dos Tribunais Administra­tivos e Fiscais (SITAF). Admitiu que tinha sido alertado “para atrasos decisórios e quanto à produtivid­ade”, que explicou porque o “SITAF era moroso, desadequad­o e hostil”.

O Ministério Público (MP) acusa-o de, através da opção “substituiç­ão”, alterar o conteúdo de vários documentos que produziu em processos no SITAF, que passaram a incluir escritos de “falhas de funcioname­nto” e “não é possível apresentar a página”. O MP acusa-o de assim ter agido para viciar a estatístic­a e a informação processual que sabia ser remetida às entidades de coordenaçã­o, gestão, fiscalizaç­ão e avaliação, nomeadamen­te ao Conselho Superior dos Tribunais Administra­tivos e Fiscais e à Direção-Geral da Administra­ção da Justiça.

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Juiz Miguel Vasconcelo­s, suspenso de funções, diz estar de “consciênci­a tranquila”

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