O comentador que está a incendiar o futebol
Polémica Ex-jornalista d’O Independente, Pedro Guerra está a deixar o comentário desportivo em polvorosa. Eduardo Barroso que o diga
Os amigos gabam-lhe a capacidade de “vestir a camisola” por uma causa, os detratores não lhe perdoam o estilo espalhafatoso e queixam-se de que ele os tira do sério. Convicto, irascível, truculento, Pedro Guerra é o homem de quem se fala, ainda mais desde que, anteontem à noite, Eduardo Barroso abandonou em direto o programa “Prolongamento”, da TVI24, devido às altercações sucessivas com o atual diretor de conteúdos da BTV.
Uma espécie de sequela de um filme que atingiu o clímax quando, na semana passada, o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, foi convidado a estar presente no programa. Na altura, o resultado foi uma roda-viva de acusações de parte a parte (entre as quais, a das alegadas ofertas aos árbitros, por parte do Benfica, que haveria de marcar a semana), com as últimas imagens a mostrarem Eduardo Barroso de dedo apontado a Pedro Guerra, com ar ameaçador. Agora, a história de uma convivência que nasceu torta desde o primeiro dia chegou mesmo ao fim.
Surpreendente? Nem tanto. Uma visita rápida ao Youtube basta para o constatar. É que, já em janeiro deste ano, quando ainda era comentador da CMTV, Pedro Guerra teve uma acesa discussão com Octávio Machado, ao ponto de a pivô do programa ter tido dificuldades em prosseguir. Mas se acha que os praticantes do vermelho e branco estão imunes às entradas de carrinho do antigo jornalista d’O Independente, desengane-se: em abril de 2014, nem o benfiquista Jai- me Antunes (candidato derrotado por Luís Filipe Vieira nas eleições de 2003) resistiu ao tom acusatório do agora assessor do grupo parlamentar do CDS-PP. E bateu com a porta.
E afinal, quem é, de onde vem e como chegou aqui o homem que está a deixar o comentário desportivo –e o futebol – em polvorosa? Ora, Pedro Guerra nasceu em Angola, em 1966, mas veio para Portugal aos 10 anos. Filho de um pai sportinguista e de uma mãe com a Académica no coração, jogou a central e a trinco no Damaiense, mas cedo se rendeu ao Benfica.
Estudou Direito em Lisboa, ainda que tenha deixado o curso a meio. Tudo porque o amor pelo jornalismo falou mais altou. Entrou em O Independente, de Paulo Portas, como arquivista – está explicado o gosto pelos papéis –, e não tardou a chegar a repórter de investigação. Culpa de uma capacidade imperscrutável de, entre sentenças e relatórios, descobrir histórias “extraordinárias”, mas também de uma grande capacidade de trabalho. “Era dos primeiros a chegar e dos últimos a sair”, recorda um dos ex-colegas, enaltecendo-lhe o sentido de humor e uma boa disposição assinaláveis.
Um vasto leque de fontes entre juízes e procuradores fez o resto e valeu-lhe papel relevante em alguns dos grandes casos de Justiça da altura. Casado, mas sem filhos, Pedro Guerra arruma de vez o jornalismo em 2002 e trabalha, até 2005, como assessor de Paulo Portas, no Ministério da Defesa. Hoje, é assessor do grupo parlamentar do CDS-PP – além de diretor de conteúdos da BTV.
Mantenho tudo que disse. Envergonhava-me estar ao lado aquele senhor. Envergonhava os meus familiares, os meus doentes, os meus alunos. Era indigno para a minha profissão. Custou-me muito, porque gostei muito de lá estar. Mas era impossível continuar”
Eduardo Barroso
Adepto do Sporting Não fiquei surpreendido por [Eduardo Barroso] ter saído, mas pela forma como o fez. Podia ter saído de outra forma, mas pronto... saiu à Eduardo Barroso. Ele não conseguia conviver com o estilo do Pedro Guerra, que é diferente do de Fernando Seara [o antecessor]”
Manuel Serrão
Adepto do F. C. Porto