O país espera ganhar
Imagino que já se tenha questionado: isto vai acabar como? Com um governo de Esquerda que perdeu as eleições? Ou com um governo de Direita que ganhou as eleições com 38% dos votos? A matemática é uma ciência exata. A política portuguesa em 2015 não. Mas entre o histerismo dos que vibram com uma aliança histórica entre uma Esquerda que aprendeu a usar o pragmatismo da Direita e a revolta insana dos que à Direita decoram t-shirts com imagens de Jerónimo de Sousa a comer criancinhas com “corn flakes”, há um país que se move, que continua a trabalhar, que está à espera.
É certo que duas semanas são escassas para decidir o futuro de uma nação, sobretudo se essa nação não for a mesma que nos pintaram durante a campanha eleitoral. Mas é bom não esquecer que a economia continua refém das taxas de juro e dos estados de alma dos famigerados mercados. Que há uma fatalidade chamada dívida. E que, gostemos ou não dessa ditadura económica, é ela que marca o passo. Negoceiem, capitulem, esgadanhem-se. Mas decidam.
Politicamente, o momento que vivemos é, a todos os títulos, cativante. Não podemos passar uma vida inteira a atacar a classe política por se emaranhar em debates estéreis e, depois, quando os assuntos são aclarados com detalhe e elevação, acusá-la de estar a fazer aquilo que sempre lhe exigimos.
Porém, teria sido mais honesto da parte de todos se nos tivessem informado antes de 4 de outubro. Teria sido mais honesto se a coligação PSD-PP, agora tão afoita em dar passos atrás, nos tivesse garantido que era possível devolver mais depressa aos portugueses parte do dinheiro que lhes tirou; teria sido mais honesto se o PS admitisse que o programa com que se apresentou a eleições, o tal que até Passos e Portas subscreveriam, podia, afinal, levar a marca da CDU e do BE; teria sido mais honesto se comunistas e bloquistas nos tivessem avisado que bandeiras sacrossantas como a renegociação da dívida e o papel de Portugal na OTAN eram para atirar às malvas. Em nome de uma ideia de poder que sempre abominaram.
A democracia é o terreno firme onde assenta a negociação, mas é, também, o palco movediço dos equilibrismos. António Costa está lá no alto, caminhando sem rede. Agarrado à Constituição que lhe permite formar um Governo estável sem ter ganho. E de difícil legitimação política. Encurralado pela necessidade de sobreviver aos olhos do partido e do país. Na outra ponta do fio de aço estão Passos, Portas e Cavaco Silva. De mão estendida. Costa já empurrou os dois primeiros. Com o presidente dificilmente será assim. Ainda bem que Cavaco já tinha previsto tudo.
Cá em baixo, o país que assiste nas bancadas espera ganhar alguma coisa no final. Governem os que festejaram e agora estão em choque. Governem os que perderam e agora estão em transe.