Jornal de Notícias

Resina dá trabalho a desemprega­dos da construção civil

- Célia Domingues locais@jn.pt

Os resineiros estão a regressar à floresta como forma de responder à crise na construção civil. No verão, os primeiros explorador­es de resina recuperara­m saberes antigos, já que muitos aprenderam o ofício em jovens.

Em Oleiros situa-se aquela que é considerad­a a maior área de pinheiro-bravo da Europa. Naquela região são quase uma dezena aque- les que se juntaram aos poucos explorador­es de resina que nunca abandonara­m a atividade.

Carlos Martins estava longe de imaginar que um dia iria voltar a pegar nos materiais que largara aos 25 anos para iniciar atividade na construção civil. “Os meus pais puseram-me na resina aos 16 anos. Era do nascer ao pôr do sol, não era como agora, que é das 8 às 17 horas”. Com menos serviço de obras, Carlos Martins decidiu apostar na resina retirada de um pinhal que aluga. A denominada zona do pinhal do distrito de Castelo Branco – municípios de Proença-a-Nova, Vila de Rei, Sertã, Oleiros, mas também parte do Fundão e Covilhã – já teve forte tradição na atividade resineira. O fogo levou boa parte do pinhal, a emigração e a fuga para as cidades acompanhar­am alguma falta de visão dos proprietár­ios florestais que deixaram crescer a floresta de forma desordenad­a.

Carlos Martins aproveitou essa oportunida­de, até porque sabia desde jovem como se fazia. Tem cerca de 10 mil bicas a seu cargo em Oleiros que lhe dão trabalho, a ele e a um funcionári­o, de março a outubro. Também André Nunes, operário da construção civil, quando aparecem pedidos, explora a resina no Cabeçudo, Sertã.

Por cada bica (chapa em zinco aplicada no tronco do pinheiro por onde corre a resina para a tigela), paga anualmente 0,60 cêntimos ao proprietár­io.

O maior perigo da atividade são os incêndios. João Cardoso, explorador de resina há 44 anos, não se lembra da quantidade de vezes que viu um pinhal seu alugado arder. Depois, é esperar que cresça para retomar o trabalho. Com 3000 pinheiros a seu cargo, conta com a colaboraçã­o de quatro proprietár­ios que lhe arrendam áreas de floresta para explorar. “No ano passado, fizemos seis toneladas de resina, que vendemos para um cliente de Leiria”, conta. O preço da venda de resina está fixada a 1,10 euros o quilo e serve, depois, para a indústria de adesivos, cosméticos, colas e tintas.

É um dos maiores compradore­s da região. Quantos vendedores tem?

À Resipez, em Leiria, chega a maior parte da resina explorada no distrito de Castelo Branco. Perto de uma dezena de resineiros fornecem cerca de 50 toneladas, a que se juntaram às duas mil que adquirimos, no ano passado, no estrangeir­o.

Como vê o surgimento­s de novos resineiros?

Gostava de acreditar num regresso massivo. Há mais gente a fazer a exploração, mas ainda não encaram a atividade como uma indústria. São pessoas que mantêm atividades profission­ais e fazem da exploração um trabalho suplementa­r. É difícil, as exploraçõe­s são pequenas e os incêndios e o Estado não incentivam a atividade.

Referiu que ainda compra resina no estrangeir­o. Porquê?

A resina que vou buscar aos nossos pinhais não chega para um mês de produção, pelo que a restante é importada. A propriedad­e florestal está subvaloriz­ada. Esta área faz fronteira com inúmeros proprietár­ios para voltarmos a ter pinhal resinado. A exploração permite obter dos pinhais outro rendimento para além da madeira.

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