Jornal de Notícias

Pais de Paulo vão emigrar com filhos para fugir da dor

Braga Rapaz que baleou amigo sem querer e a irmã são vítimas de comentário­s que estão a destruir emocionalm­ente a família. Rúben continua em estado crítico

- Emília Monteiro locais@jn.pt

A família de Paulo Rodrigues, o rapaz de 12 anos que na passada sexta-feira, durante uma brincadeir­a, disparou um tiro contra um amigo de 9 anos, deverá deixar Portugal em breve. Paulo e a família estão “de rastos” com o acidente que deixou Rúben Ralha, o amigo com quem brincava, em estado crítico no Hospital de S. João, no Porto.

“Uma arma deixada à vista de todos, carregada e pronta a disparar, deu cabo da vida de duas famílias: a do Rúben e a do Paulo”, disse, ao JN, um amigo muito próximo das duas famílias, também elas amigas entre si. Rúben continua em estado muito grave na sequência do disparo que o atingiu a cabeça. Sem apresentar melhoras, no hospital, médicos e psicólogos vão preparando os pais (sobretudo a mãe, que nunca mais se afastou do filho) para a possibilid­ade de um desfecho contrário aos seus desejos.

Em Merlim S. Paio, a tristeza tomou conta da pequena freguesia de Braga. Contudo, algumas reações para com o jovem de 12 anos, os pais e, sobretudo, para com a irmã de apenas 6 anos, levaram a que o casal pense em emigrar, juntandose a outros familiares que já resi- dem no estrangeir­o. A pressão sobre os pais de Paulo e alguns comentário­s, tanto na escola frequentad­o por Paulo, como no estabeleci­mento de ensino frequentad­o pela irmã, estão a criar situações de “pânico e ansiedade” que nem os profission­ais de saúde estão a conseguir minorar.

“É muito triste”

O pai do jovem, mecânico, e a mãe, auxiliar numa escola, deverão ausentar-se logo que lhes seja possível. “É muito triste. É tudo demasiado triste para toda a gente”, afirmou a mesma fonte. Como houve um disparo, mesmo que acidental, feito por um menor, cabe ao Tribunal de Menores e de Família de Braga decidir que providênci­as tomar. Paulo já foi ouvido, na noite do incidente, para memória futura, garantindo, desta forma, que qualquer processo judicial possa decorrer sem a sua presença.

No depoimento, o rapaz de 12 anos, em choque, contou o que agora é público: ele e Rúben descobrira­m a pistola e começaram a brincar aos cowboys sem saber que a arma era verdadeira e que estava pronta a disparar. António Silva, 63 anos, reformado após um acidente que o deixou há anos numa cadeira de rodas, assumiu ser dono da arma, oferta de um amigo já falecido e que estaria agora a legalizar. Foi constituíd­o arguido pelo Tribunal de Turno de Vieira do Minho com a medida de coação de termo de identidade e residência.

Pais de Rúben estão a ser preparados para o pior cenário

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Mãe de Rúben é dona de um salão de cabeleirei­ro, mas passa os dias no hospital

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