Passos e Costa esticam a corda
Encontro terminou sem entendimento sobre formação do próximo Governo
PSD e CDS acusam PS de não querer compromisso. Socialistas arrasam documento da PàF
A reunião de 2.15 horas entre a coligação Portugal à Frente (PàF) e o PS, no Largo do Rato, em Lisboa, foi “absolutamente inconclusiva” e deixou ao líder do PSD, Passos Coelho, a sensação de que António Costa não está de boa-fé a negociar. Horas antes, em declarações à Reuters, o secretário-geral do PS já tinha mostrado estar disponível para esticar a corda toda: disse que o PS está em melhores condições do que a Direita para formar Governo e que “Portugal manterá a estabilidade dos seus compromissos europeus”, numa tentativa de acalmar os mercados.
Do lado da PàF, há queixas de que, no encontro, apenas se ouviram “coisas vagas” e “generalidades”. Do lado do PS, Costa apontou “lacunas graves” às propostas da coligação – criticou a ausência de medidas como a revisão dos escalões do IRS, a reposição dos salários da Função Pública e a descida do IVA da restauração –, e admitiu que “o tempo se está a encurtar” para encontrar uma solução de Governo estável.
O secretário-geral do PS admitiu, contudo, que irá dar mais “uma oportunidade” à coligação, enviando por escrito tudo aquilo que esperava encontrar no “documento facilitador” enviado pelo PSD e CDS. Mas deixou o recado: ou a coligação mostra vontade de ir mais longe nas propostas ou deve preparar-se para o PS ultrapassar “um muro na democracia portuguesa que existe desde 1975”, referindo-se às negociações que tem estado a levar a cabo com o PCP, PEV e BE (e que se vão prolongar durante o dia de hoje).
“É preciso que a coligação perceba que estamos num novo qua- dro parlamentar e que a coligação perdeu a maioria que tinha”, disse António Costa. Voltou a insistir que, nas eleições de 4 de outubro, os portugueses disseram “esmagadoramente” que querem uma alteração das políticas e admitiu estar a trabalhar para que “essa mudança se traduza numa nova maioria de Governo”.
Mantém os 600 milhões
O documento de 13 páginas, enviado anteontem para o Largo do Rato, inspirou-se nalgumas propostas do programa socialista, deixando cair medidas polémicas como o plafonamento das pensões, mas insistindo na necessidade de encontrar fontes de financiamento alternativas da Segurança Social e fixando o objetivo de 600 milhões de euros de reforço.
Ontem, à saída da reunião, Passos Coelho não escondia a descrença. “Hoje não avançámos rigorosamente nada”, confessou o líder do PSD, dizendo esperar que o PS mostre que tem “vontade política de chegar a um entendimento” e faça chegar as suas condições.
A coligação lembra que foi o PS a marcar a hora e a data da reunião, pelo que a ausência de propostas concretas socialistas é encarada por PSD e CDS como uma falta de vontade de chegar a acordo. “O sentimento é de que esta é uma suposta intenção de negociar e não uma verdadeira negociação”, disseram, ao JN, fontes da coligação, garantindo que, ao fim de duas horas de reunião, não havia nenhuma proposta do PS em cima da mesa.
O líder do PSD, contudo, recusa acreditar que não seja ele a ser indigitado primeiro-ministro. “Aquilo que posso afirmar, como presidente do PSD, é que a expectativa legítima que o PSD e o CDS têm é a de que sejam chamados a formar Governo, porque foram, conjuntamente, os que ganharam as eleições”.
Costa, por seu lado, lembrou que “não temos muito tempo”. “Certamente para a semana, o presidente da República iniciará contactos oficiais e era útil que pudéssemos todos chegar com respostas claras e conclusivas sobre a avaliação que fazemos no que respeita às melhores condições de estabilidade e de governabilidade”, disse.